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Por José Maick Fernandes Goes e Carolina Fernandes de Caldas.
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A Arte em espaços alternativos

Que São Paulo é uma galeria a céu aberto disso temos certeza, mas poucos param para observar o que há ao seu redor, ou ao menos identificar os espaços que acolhem os pequenos artistas que tanto embelezam e fazem arte por aí.

Quando falamos em arte visual, tratamos delicadamente de cada detalhe que é posto num grafite, escultura, pintura em tela, arquitetura entre outros. Mas, a grandiosidade disso tudo deve-se as pequenas galerias, mais conhecidas como espaços alternativos.

Os espaços alternativos foram incorporados pelos artistas da vanguarda desde o início do século XX, como Cabaré Voltaire, misto de bar e teatro frequentado pelos artistas Dadaístas. As ruas das grandes cidades também foram palco de inúmeros eventos dos artistas modernos com performances e outras manifestações artísticas", explicou o coordenador do curso de Artes Visuais da Cruzeiro do Sul, Claudemir Ferreira. Em meados do século passado a arte contemporânea deu início a um processo de intervenção com as instalações, sites específicos e a arte urbana. Esses locais proporcionam trocas de experiências, sempre destacando formas relevantes de tipos de mediações culturais, como na qual o artista, a obra e o público se fazem presentes de um mesmo espaço. Isso tem ganhado força nos últimos tempos, em vasta visibilidade os espaços alternativos urbanos, que são constantemente mais normais no dia a dia da população. As repercussões são maiores na mídia e nas redes sociais. As intervenções integram a população com artes visuais, excitando o senso crítico das pessoas, que mesmo sem entender de arte, se manifestam com suas opiniões.

Na atualidade os artistas expõem suas obras em espaços urbanos e espaços residenciais, como a Casa Xiclet. Aberta em 2001, Xiclet, como gosta de ser chamada Adriana Duarte, proprietária do espaço, viu que sua residência era mais que um ambiente entre amigos, poderia ser um espaço aberto para todos os artistas, acolhendo esses profissionais e sem curadoria, o artista seria seu próprio curador.

“Aqui tem obras de pequenos grandes artistas, pessoas desconhecidas, mas que tem um enorme talento. Abri as portas da minha casa para acolhe-los, exporem suas artes".

O curioso do espaço Casa Xiclet é a casa em si ser a própria arte viva, quintal acolhedor com poltronas, bancos e cadeiras, pura arte, que pode ser usada e admirada de perto, sem restrições. De cara já vemos a sala de visitas que trás uma carga de exposições, quartos e até o banheiro conta um pouco de cada expressão artística. O seu diferencial é realmente se livrar de preconceitos, tudo que for arte é bem-vindo, mas se nega a transformar sua casa em uma galeria para artista atender seus clientes, em exemplo ela cita artesanato. Não desmerecendo, mas de modo educado Xiclet afirma que são trabalhos que se diferenciam. O visitante sente-se literalmente em casa ao ser recepcionado pela dona da casa, que relatou fazer churrasco com os artistas para abrir uma nova exposição, provocando certa interação com o público.Há diversos espaços inseridos no nosso cotidiano, que não damos muita atenção.

Alguém já parou para olhar as obras e exposições que de hora outra tem nas estações do Metrô de São Paulo? Talvez poucos, mas nesse enorme labirinto cruza de norte a sul, de leste a oeste da capital.

A Linha da Cultura é um programa voltado para produções artístico-culturais dentro do Metrô de São Paulo. Desde 1986, o Programa Ação Cultural, que une a Linha da Cultura e Arte no Metrô traz exposições, música, dança e teatro de maneira gratuita aos usuários do sistema. É nesse contexto que surge a Linha da Cultura, para expor diversas linguagens artísticas que tragam conteúdos de interesse social e educativo. O espaço é cedido ao artista de forma totalmente gratuita, mediante a aprovação do projeto pelo Ação Cultural. Porém, da mesma forma que a empresa não cobra nada dos artistas, veda quaisquer tipos de comercialização de obras por parte deles nas dependências das estações. O Metrô também não se envolve na captação de recursos para a criação das obras. Isso fica por conta do expositor e de seus possíveis patrocinadores. A contribuição para usuários é ter acesso a obras de artistas conhecidos no Brasil e no mundo pela qualidade de seus trabalhos. Já para os artistas é ter suas obras expostas para um público que talvez não tivesse acesso em outro local.

Parte dos artistas que expõem e já exporão na Casa Xiclet, também tiveram oportunidades em outros espaços como a Funart, que quer possibilitar a inserção dos novos artistas no mercado, com propósito em novas formas de relação da arte com o público, pesquisar em conjunto, discutir as ideias artísticas e repensar o papel da arte dentro dos centros urbanos.

A principal diferença é que o uso de espaços alternativos, dependendo do caso pode abordar um público específico, no caso de espaços fechados e privados. E no caso de manifestações de rua pode abordar um público transeunte, sem distinção de idade, classe, ou parâmetros culturais. A diferença está também na ausência de um crítico ou curador. Também é importante o papel desses espaços no estabelecimento profissional desses artistas. A ocupação das galerias se dá, normalmente, por edital público. O pagamento do prêmio possibilita aos artistas selecionados a realização de projetos que seriam inviáveis sem esse suporte financeiro e de estrutura. Em parte, algumas galerias alternativas fornecem espaços em que o artista vende a obra e o valor é divido porcentagem dono do espaço e artista, tem exceções em que os espaços são cedidos gratuitamente por estarem vazios, mas a venda da arte é dividida, exemplo na Casa Xiclet.

Fora os editais, a Funarte SP também realiza parcerias com curadores, recebendo projetos que apresentem trabalhos de artistas iniciantes ou com pouco mercado. É o que acontece neste momento, com o Projeto Burgos. Muitos artistas começam nesses processos alternativos coletivos e conseguem, com o tempo, consolidar o seu nome no meio. Tendo grande importância para esse cenário que vive constante luta, para promover visibilidade das diversas manifestações artísticas em fotografias, desenhos, danças, xilogravura, cinema entre outros. Num todo, o artista constrói sua carreira com amplitude de espaços, transparência e contato maior com o público que admira e compra sua arte.

Fotos Estela Silva, Alisson Bruno, Maick Goes e Paulo Soares.

Amantes de HQs

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Por Elenilda Oliveira, Ilquias Rodrigo, Júlia Aguiar, Henrique Souza e Estela Silva.

O que pensam os fãs das histórias em quadrinhos e suas opiniões sobre o assunto.

Uma paixão cultivada ainda na infância, alguns incentivados pelos pais, outros por gosto próprio e muitos vivem isso pela vida toda, o que sabemos é que ser fã de histórias em quadrinhos é viver em um mundo onde a arte e a imaginação andam juntos. Mas não é só isso, o gosto por personagens vai muito mais além do que hobby, é um ciclo vicioso dito por eles próprios. A maioria são colecionadores assíduos, e participam de vários eventos, como a Comic Con, um dos maiores eventos de HQs e cultura pop do mundo.

O cinema também é um grande influenciador, com várias produções de filmes de histórias em quadrinhos, produzidos pela Marvel, e com milhões em bilheterias, com certeza o mundo dos quadrinhos cresceu muito com essa ajudinha cinematográfica. Em entrevista o advogado Vitor Ferreira, fã de quadrinhos desde a infância, fala um pouco sobre isso.

“Eu acredito que assim por meio da mídia cinematográfica e televisiva teve um grande bum, não dá pra falar que não, herói é um negócio legal, filme da Marvel é coisa que todo mundo vai assistir, tem dois filmes passando praticamente, vai começar a liga da Justiça e tem o Thor, tá com bilheteria esgotada, eu acho que deu uma boa crescida”.

Enquanto o cinema contribui, o público de HQs só aumenta, grandes personagens como Batman, Superman, Homem Aranha e

agora a Mulher Maravilha, levam crianças ao

cinema e a partir daí, a tomar gosto pelos quadrinhos, seja por gostar dos heróis ou dos vilões! A influência pode vir de alguma pessoa mais próxima que ama quadrinhos.

“Já comprei muitas coisas para o filho da minha ex namorada, mais lógico que assim, a gente tem que adaptar para as coisas que as crianças gostam, então já comprei Hora de Aventura e temas relacionados, algumas coisas da Marvel que ele também gosta, por conta dos filmes” conta Vitor.Que a paixão por esse mundo fantástico dos quadrinhos e mangás começam na infância, isso já sabemos, mais o que dizer sobre as fãs femininas? Sabemos que muitas mulheres também gostam de quadrinhos, mangás e animes, é claro que esse espaço para elas ainda é bem menor do que para os homens, o preconceito ainda existe, até mesmo nos próprios personagens cheias de erotização, algumas mulheres quadrinistas estão transformando para mudar esse cenário.

Sandy Leila, estudante de TI, fala um pouco sobre a participação das mulheres no mundo dos animes: “Eu acho que é muito importante elas participarem porque sempre tem, um homem desenvolvendo um anime, e sempre com personagem estereotipada, os animes desenvolvidos por mulheres não são, então já faz uma grande diferença.”Se questionar para um fã de quadrinhos se tem idade pra começar a submergir nesse universo cheio de diversidade“Qualquer um pode ler, qualquer um vai gostar, sempre tem

histórias pra qualquer tipo de público”,

como afirma o ajudante geral Leandro

Marques."Há muito tempo atrás era até difícil você dizer que tinha o hábito da leitura de HQs, porque o pessoal que não conhecia menosprezava muito, mas, nos últimos anos, esse tipo de preconceito diminuiu bastante", diz o senhor Taylor da Silva, Analista de Sistemas e colecionador assíduo de quadrinhos junto com os filhos. “Eu sou um leitor meio atípico, tá? Eu comecei a colecionar livros aos oito anos de idade e descobri a ficção científica, mais ou menos no começo da década de 80 eu comecei a colecionar quadrinhos” ele lembra.

Com todo esse universo que cresce a cada ano e cativa mais e mais fãs, o mercado nacional ainda está em crescimento. “O quadrinho no Brasil é bem underground, a gente não tem uma indústria, o máximo que a gente chegou foi o estúdio do Maurício de Sousa, eu vejo muita galera começando e se interessando em fazer quadrinho no Brasil, isso tá com uma crescente bem alta eu acho que daqui há alguns anos vai tá num patamar bem grande”.

Os quadrinhos são considerados sim um tipo de arte. E seja como for o começo da jornada por esse mundo, é certeza que vai conhecer muitas pessoas para compartilhar histórias, no caso as encadernadas, que podem divertir ou fazer refletir todo um público que não tem idade, seja homem ou mulher, pra começar a se apaixonar.

Fotos Ilquias Rodrigo.

O que acontece dentro de um cinema pornô?

Quatro jovens na mesma avenida da grande selva de pedras, mais conhecida como São Paulo, especificamente, na Av. Ipiranga, região central da cidade com grande movimentação; ali há diversidade de pessoas, estilos de vida, costumes e culturas vindas de todo Brasil e do mundo! No entanto, o que não era comum naquela ocasião para eles seria a visita a dois de alguns dos cinemas pornôs que se localizam nas redondezas.  Inseguros, nervosos, porém cheios curiosidade o quarteto enfrenta todas essas emoções e aventuram-se em uma experiência peculiar até no momento impensada.

Nossa revista separou dois depoimentos sobre os lugares na visão de Alisson e Paulo, acompanhe:

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Por Paulo Soares e Alisson Bruno.

Ironias da vida em um cinema pornô

De janeiro a agosto de 2015 trabalhei como telemarketing em uma daquelas empresas bem próximas a estação da Luz, no almoço ou até mesmo antes de iniciar meu expediente andava pelo centro e uma das coisas que me chamava a atenção – além da movimentação e o mau cheiro – eram os cinemas pornôs. Havia uma graça em imaginar qual tipo de pessoa poderia frequentar, recordo que sempre comentava com algum colega “eu nunca teria coragem de entrar, imagine como deve ser!? Deus me livre!”, e assim continuava, até que me acostumei com toda aquela diversidade de lugares, desde da Santa Efigênia – um dos melhores lugares para comprar eletrônicos, realizar concertos e etc. – até os famosos cinemas. O que eu não previa é que em 2017 voltaria ao centro da cidade com objetivo de frequentar o mesmo lugar o qual um dia quis distância.

A vida é irônica conosco às vezes, porém, aventurei-me, mesmo demorando cerca de 1h para reunir coragem suficiente para entrar no Cine República que fica ao lado de um fast food famoso. Meu amigo quase me matou por tanta “frescura” – vale lembrar que na primeira tentativa chegamos até a catraca, mas dei para trás pois o cheiro de água sanitária forte já exalava na entrada –, deixando os fatos constrangedores por minha parte de lado e passamos pela catraca cinza bem parecida com as dos ônibus da cidade, a partir dali sabia que da mesma maneira que faço viagens em transportes públicos faria pelo cinema pornô. Pagamos 16,00 R$ cada, a cabine da bilheteria era totalmente coberta, visualizar a bilheteira era impossível, porém, no final da “viagem” conseguimos falar com ela, uma mulher de cor parda, aparentando seus 50 anos, cabelo loiro mel/água de salsicha com fios brancos, usava uma camisa azul mostrando os ombros e calça jeans, estava arrumando o caixa quando a abordamos; questionamos sobre os dias de movimentação “quinta, sexta, sábado e feriados são os dias que tem mais gente aqui, principalmente à noite lá pelas 22h”, disse a mulher que até antes entramos só era uma voz por de trás da cabine.

Uma cortina cor vinho desgastada sinalizava a primeira sala, que tinha um cheiro forte, qual não identifiquei, mas não era agradável, continuamos a caminhar pelo corredor escuro, ao fundo rodava um filme pornô convencional (homem transando com mulher), não sentamos porque o lugar era novo e desconhecido, Maick foi buscou informações a primeira pessoa que viu parada atrás da cortina no canto mais escuro da sala. Era um homem, gordo, careca, estava com um sorriso malicioso e quando se aproximou tocou nos braços dele, depois foi puxando-o para uma parte escura.

— Calma, só tem essa sala por aqui — Ouvi o cara dizendo.

— Tem mais um andar. Quer subir comigo?

Meu coração parou até ouvir Maick respondendo

— Obrigado! — ele agradeceu e rapidamente me puxou e saímos pela cortina.

Do lado esquerdo realmente tinha uma escada de ferro de cor preta. Cada degrau eu sentia mais forte ainda o odor que senti na outra sala.


O contato da mão com pênis enquanto causa atrito, chamamos isso de masturbação, essa fricção toda aconteceu bem em nossa frente enquanto estávamos dentro do cinema: um homem alto rechonchudo, de boné preto, camisa preta, bermuda também preta fazia o movimento enquanto fitava o olhar em nós, felizmente, o lugar era tão escuro que toda cena parecia desfocada. Eu não estava preparado para nada daquilo enquanto subia as escadas do cinema, apertava fortemente o braço de Maick com de medo sei lá o que, sem contar

que não parava de falar por conta do nervosismo. A sala era grande, com um corredor no meio, aparentemente, um cinema “normal” se não fosse pelo filme pornô gay na tela, havia luzes azuis no chão, bem nas bordas do caminho para iluminar – que não servia de quase nada – acredito que era só para enxergar os pés mesmo. No final da sala era possível enxergar duas portas com pouca iluminação, como não estava nem um pouco afim de ficar parado na ponta da escada peguei José Maick pelo braço e tomamos o caminho do corredor para desvendar o que tinha nas portas, enquanto dávamos passos com sussurros cerca de dois homens passaram por nós e de suas narinas o ar sugava-se próximo ao nosso cangote como se fosse um “caçador” indo atrás da sua presa, o que me assustou, outro “sinal para contato” era esfregar a mão no pênis, aquele movimento indicava que aquela pessoa queria algo com você. Próximo às portas três homens com idade variadas estavam se masturbando, não juntos, mas cada um no seu canto, um desses caras pegou o braço do Maick, ele só rejeitou e continuamos. Arriscamos ir primeiro pela porta da direita, como de costume pouca iluminação, ao entrar havia uma escada descendo, já que estávamos na chuva nos molhamos, descemos e tinha outra porta, mas essa não tinha iluminação, imaginei que fosse o darkroom que uma das placas indicava no começo, só por se aproximar sentíamos o cheiro de gozo forte e vários papéis espalhados no chão, contudo, tínhamos o total de 0% de curiosidade para se aventurar em lugar escuro com vários homens fazendo sexo, digo homens porque o grande público lá é masculino e vão direto para o andar “gay” do cinema já que na sala do pornô hétero se encontrava somente os bancos vazios de madeira. Subimos e com isso veio um cara baixo, quase careca, de estatura baixa e com um olhar malicioso, encarava ambos com aquele olhar de caçador, ele nos acompanhou – jeito delicado de se dizer – até matarmos a curiosidade sobre a outra que continha uma escada subindo para os banheiros, lá ficou nosso “parceiro” e a curiosidade também já que só havia vasos sanitários, divisórias e pia. Descemos para sala – e claro que no caminho houve mais fungadas. Decidimos sentar e reparamos que não havia mais que cinco pessoas na sala, fomos para uma das primeiras fileiras, verificamos se era seguro sentar e ali ficamos observando, até que o cara da limpeza passou, uma lâmpada fluorescente juntamente com vassoura e pá passava de fileira em fileira, um senhor de boné bem gastado com roupa no mesmo realizava o trabalho, não se dava o direito de olhar muito para os clientes, fazia seu serviço sem atrapalhar. O cara punheteiro mencionado se aproximou após a limpeza, o pensamento de tentar falar com ele até passou por nossas cabeças, mas sabíamos que se ele se aproximasse, sem dúvidas, não seria para trocar doces palavras, aturamos ver toda a cena até o final do primeiro filme, mas nosso “ponto de descida” chegou e nós retiramos do cinema buscando pelo ar da cidade novamente.

Fiquei pensando centenas de vezes como escrever minha experiência no local, minha dúvida era se relatava mais o lugar ou a minha sensação, no final do texto vi que as duas coisas se interligam criando uma “imagem” que, provavelmente, você teve após ler minhas palavras (nem sempre tão “santas”). Toda essa experiência me levou a analisar como todos lá dentro agem de uma maneira predadora e ousada, nem todos ali deveriam ser gay, ou seja, quando passam pela porta de saída suas vidas continuam como se nada houvesse acontecido, aquele instinto animal se esvazia e a forma humana toma conta novamente e com ela seus medos, frustrações, alegrias e conquistas.

Por que tinha um gato no cinema Pornô?

Era uma quinta feira e estava próximo ao horário de almoço, por volta das 11h30 o sol já estava quente, 30°C. Do bairro da Liberdade estava a caminho de uma experiência que até aquele momento não havia passado por minha mente em vivê-la. Decidi ir andando até a Praça da República, é o que faço de costume quando vejo que os locais em que vou são próximos de onde estou. 

Eu já havia reparado os cinemas pornôs, outras vezes em que passei por essas regiões, mas desta vez creio que consegui concretizar minha percepção, ao ir me aproximando cada vez mais do marco inicial de SP, reparo o cheiro forte de urina presente pelas calçadas, uma grande agitação de pessoas a passar para lá e para cá. Sim, é um caos, a cidade parece ser cada vez mais lotada de arranhas céus, prédios cinzas e poluição mais aparentes.

Continuei a caminho do meu destino, por mais que eu tivesse todas essas percepções. Ainda não conseguia tranquilizar em mim o medo que estava a me incomodar. Durante a noite, nem consegui dormir direito, pensando no que poderia ocorrer quando eu estivesse no local.

Chegando à Praça da República, na Avenida Ipiranga, paro e penso, como eu nunca tinha notado os cinemas pornográficos de tantas vezes que já passei por aqui, os cinemas pornográficos, sim eles existem e sim esse era meu destino, fiquei impressionado pela quantidade que ali encontrei, Cine República, Cine Globo, Cinema Alvorada, entre outros nas ruas ali próximo como Cine Dom José e Cine Arouche. 

Na fachada todos aparentemente são semelhantes, a parede de cor preta, o cartaz com os valores de sessões e das tão faladas cabines individuais, e uma pequena luminária " Cine 24hrs". Fiquei na frente por algum tempo dos primeiros que avistei para acompanhar o movimento, mas não vi entrar nenhuma pessoa, olhei no relógio e então entendi o motivo, não tinha dado ainda o horário do almoço.

Uma coisa ainda me incomodava, o infeliz do medo, agora misturado com uma ansiedade incontrolável, tudo isso porque eu já havia ouvido e lido alguns comentários desagradáveis sobre esses espaços.

Decidi andar um pouco mais para tentar me acalmar, e foi então que um cinema me chamou a atenção, por ter mais informações, sua fachada amarela, também tinha os cartazes, desta vez anunciando alguns filmes e uma moça com uma aparência de 37 anos que vestia uma roupa como alguém que estivesse passando pelo centro em busca de emprego, ela estava na frente do recinto anunciando:

- Vamos pessoal! A casa está cheia hoje.

Notei que já era o horário de almoço, então com medo, ansiedade e uma confusão de sensações e emoções decidi me aproximar daquela mulher.

Perguntei:

- Qual é o valor do ingresso?

- R$ 15,00 

- Vou querer um. 

Ela trabalhava como divulgadora e bilheteira daquele cinema. 

Na hora de pagar perguntei:

- Aceita cartão?

- Aqui na bilheteria só aceita dinheiro, lá dentro aceita cartão.

Ela reparou pela minha feição que era minha primeira vez, então começou a explicar, possivelmente para tentar em acalmar, como era o espaço e como ele funcionava.

“Este é o Cine Globo, você entra por essa catraca e ao passar por ela, você verá na sua direita as cabines individuais, que para uso delas terá que pagar um valor adicional. Subindo as escadas você vira à direita, lá em cima você vai ver os assentos, também tem um bar e os reservados, caso queira utilizar é só combinar com alguma das meninas.

Para sair você verá uma porta amarela, é só empurrar. Você pode ficar à vontade lá

dentro, quantas horas quiser”.  Mal havia entrado e já estava preocupado em não achar a bendita porta amarela.

Aproveitei o momento para perguntar:

- Qual o público frequenta aqui?

- Um público variado, homem, mulher, gay, casal, de tudo. 

Por fim, peguei meu troco e então passei pela estreita catraca. 

Ao entrar no cinema, logo dei de cara com um espaço de paredes pintadas de preto, a direita as cabines aparentemente vazias, mas minha curiosidade maior era em saber o que tinha lá em cima, logo subi as escadas. O ambiente tinha um aroma de incenso.

Na parte de cima avistei uma parede, como se dividisse o espaço, me deparei com uma mulher olhando por alguns buracos na parede, que da visão para parte de fora do cinema, acima dela estava o telão, não muito grande como os de cinema tradicional e nem de qualidade, pois as imagens eram um pouco escuras, nele já estava passando um filme, aparentemente amador e de produção brasileira. 

Havia uma parede que dividia o espaço, e, ao contorná-la, vi os assentos, o bar no canto, um palco no meio, globo de luzes coloridas, algumas garotas de programa aparentando de 30 a 40 anos espalhadas pela sala, e entre elas, dois rapazes.

O ambiente de paredes pretas, parecia ser mais escuro do que um cinema tradicional, nele tocava uma música antiga e lenta, não se ouvia o áudio do filme.A princípio apenas queria observar melhor todo aquele ambiente, então procurei um lugar para me sentar e, antes de me acomodar. Dei uma olhada no assento com a lanterna do celular para ver se estava limpo. Notei que os assentos tinham uma aparência de antigos, por isso alguns estavam rasgados. Me lembrei que o Cine

Globo, tempos atrás funcionava como cinema tradicional.

Passados alguns minutos lá dentro, veio em minha direção umas das garotas. Eu ainda assustado por conhecer tudo aquilo, não expressei nenhuma reação, ela então me cumprimentou. 

- Boa tarde! Gosto de cumprimentar a todos. 

E sorriu, como se tivesse querendo me confortar e tirar um pouco da minha tensão que estava notável.

- É sua primeira vez aqui?

- Sim.

- Olha não precisa ficar assustado, pode ficar à vontade.

- No final da sala temos os reservados, se quiser chamar alguma das meninas, é só avisar, caso queira alguma bebida alcoólica ou sem álcool é só pedir, aqui não tem problema.

“Trabalho aqui há 15 anos tenho direito a duas folgas por semana. O aqui movimento varia de dia para dia e de horário para horário, não gosto muito de trabalhar aos sábados, mas quando o chefe pede abro uma exceção, além disso ganhamos comissão, os preços variam entre cada menina e atendimento e uma parte do dinheiro ganho é entregue ao dono do espaço”, me contou Sheila.

Eu fiz para ela a mesma pergunta que fiz para bilheteira:

- Geralmente quais as pessoas frequentam aqui?

- Ahhhh meu filho! De tudo, homem, mulher, gay, casal. 

“Uma vez um casal, eu digo casal por estarem duas pessoas juntas, mas não me interessa se são namorados, amigos, desconhecidos, mas um casal, eles me pediram para transar com eles no reservado. Eu fui, não vejo problemas com isso, cada um tem suas fantasias, ora uma mulher pede para eu transar com seu marido enquanto ela olha e vice e versa”

Ainda percebendo que eu era novato no ambiente, ela busca me deixar confortável: “Pode ficar à vontade, se quiser ir no reservado vai, se quiser fazer algo por aqui pela sala também pode, as meninas atendem também aqui nos assentos, onde você quiser. Vou dar umas voltinhas se quiser alguma coisa, pode me chamar, meu nome é Sheila”

Antes dela sair de perto de mim, aproveitei para perguntar se podia tirar fotos ali “se for do espaço não, apenas se for da própria pessoa”. Ela então confirmou a resposta com um dos rapazes que estava andando por ali perto, parecia ser o segurança, e ele fez o gesto com a cabeça de não, mas expliquei que seria uma selfie, ele então deixou.

Então Sheila se deslocou para outro canto, o rapaz foi em direção ao bar e fiquei sozinho, sentado e olhando para o telão, que exibia a cena de um oral realizado pela atriz do filme no ator.

No bar que ficava a frente de onde eu estava sentado, estavam o rapaz e mais outra garota, logo atrás dos dois, um gato, sim, também achei inusitado o felino passeando em um cine pornô, passava entre o palco e o bar.

Não demorou muito tempo, a moça que estava no bar veio falar comigo. Também educada disse:

- Olá tudo bem?

- Sim, tudo bem.

- Você vai querer comer alguma coisa?

- Não, a princípio estou só conhecendo o lugar mesmo.

- Tudo bem, pode ficar à vontade, se quiser é só chamar.

E novamente fiquei sozinho. Preferi me deslocar para as fileiras de trás, pois eu estava sentado na quarta fileira logo estava muito próximo a iluminação do bar e como só tinha eu de cliente, acabaria chamando muita atenção, não queria pagar programa, pois a tensão amenizada, ainda me rondava.

Passados alguns instantes na parte por onde dava acesso a sala, chegava um senhor, aparentemente com seus 70 anos, andava calmamente. Em outra parte da sala levanta contente uma das mulheres, pois muitas ali já estavam entediadas pois até o momento não havia aparecido nenhum cliente.

“Ahhh! Que bom um cliente”

Quando se aproximou dele o abraçou e começou a recepcioná-lo e ir em direção a um dos assentos. Sentaram-se à minha frente, o que inevitavelmente me chamou atenção. Os dois conversavam e, subitamente, como nos enredos pornôs, ele começa a acariciar os seios dela e beijá-los, de agora em diante o sexo era irreprimível.

Como único espectador da cena, assisti ao ato. Tão subitamente quanto começou, terminou. Ao fim, ela se dirigiu ao bar para pegar uma bebida.

Observando que eu estava a assistir o casal, Sheila se aproximou novamente, sempre de forma educada:

- Desculpa estar incomodando novamente, mas como está aí?

- Até o momento tudo ok.

- Não vai querer nada?

Na verdade, pensei em ir embora, a cena era no mínimo inusitada, mas disse.

- Pensei de ir ao encontro de um amigo e trazer ele aqui.

E ela me deu uma dica:

- Se for rápido, para entrar aqui só seu amigo irá pagar, você não precisa pagar mais uma entrada.

Me despedi dela e fui em direção a saída. Ao cruzar a sala percebo um dos seguranças com incenso, “defumando” a sala do cinema, provavelmente uma estratégia para disfarçar o cheiro do sexo. Descendo as escadas vi chegando mais um cliente e quando passei pela porta amarela de vidro dei de cara com a luz do dia daquela tarde em SP. Na bilheteria, um senhor comprava o ingresso. 

Fotos Maick Goes.
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