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Título 1

A vida pela Batalha

Uma praça em São Paulo, tarde da noite, com uma roda de pessoas reunidas, vibrando e torcendo para um dos lados! Outras duas ao centro praticamente coladas, gesticulando ferozmente e na maioria das vezes com o dedo em riste apontado um para o outro! Briga? Discussão? Motim? Não, não... É a famosa Rinha de Mc´s ou também conhecida como Batalhas dos Mc´s.

Batalhas? Rinhas? O que são? Como começaram? Nos últimos anos o Rap vem ganhando espaço e com essa evolução surgiram vários Mc’s, uma nova geração que não tinha oportunidade e que buscou diferentes caminhos para divulgar o seu trabalho, encontrando nas batalhas de Mc´s de rua a melhor e mais viável forma de divulgação. As batalhas começaram na estação São Bento em 2006 com jovens cantando rap e dançando break. Hoje em dia já existe batalha de sangue e batalha de tema.   

Os encontros acontecem durante a semana, durante noite e no final de semana à tarde, geralmente reúne aquela molecada que gosta de Hip-hop, que duelam entre si com duração de trinta segundos de bate e volta e caso haja empate acontece o terceiro round. Na maioria não existe estrutura de som, é através de capela voz, Beat Box e as palmas de quem está presenciando o show.  Isso ocorre na Batalha da Roosevelt, que teve inicio em 2013 sendo uma das mais resistentes, todas as quartas feiras às 20h. Por ser uma batalha de sangue, ou seja, com um tema livre, ela possui uma linguagem das ruas que se torna um duelo de criatividade não havendo limites para ofensa.

Na Roosevelt não tem premiação da parte dos organizadores, antes de começar passa o boné, o vencedor poderá ganhar desde um prêmio material, ou até mesmo alguns trocados, além do reconhecimento pelo seu trabalho, claro.

As batalhas já proporcionaram muito reconhecimento, o Emicida, por exemplo, ganhou visibilidade passando por batalhas do metrô Santa Cruz, o que serve de motivação para os Mc’s, possibilitando aprendizado e trocas de experiências, já que o Rapper vira e mexe aparece para prestigiar as batalhas.

Na organização do projeto desde o início, Paulo Vitor, Lucas Cristão e Thiagão, que atualmente tem um grupo chamado “Motim”, passaram o bastão para outros organizadores, que atualmente são: Nino, Lord, Carol e a Gabi, que foi a última a integrar o grupo. A organização das batalhas é tratada como uma empresa, onde cada um dos quatro integrantes tem o seu papel desde a parte audiovisual até a batalha. O centro da cidade é o escolhido por ter o acesso facilitado à todas as regiões.

O organizador Nino, 31, conta sobre experiências que aconteceram envolvendo as batalhas “ A gente corre atrás do que a gente pode, mas mesmo assim ainda fazemos as paradas aqui e a galera colabora, trás os agasalhos, faz uma e outra campanha e a galera trás, e isso é muito louco, é uma parada que é feita no meio da rua.  Pó, trás um agasalho e se a galera trazer, legal, da hora! Dá pra quem precisa”.

As batalhas envolvem bem mais que apenas as rimas, hoje em dia ela já é tratada como uma profissão e muitos já tiram o sustento apenas disso, não importando como estiver o tempo, se está no dia, haverá o show. Nino, por exemplo, conta sobre o seu projeto para conseguir uma “grana” extra fora das batalhas:

“A gente tem o coletivo hoje que se chama “Utrem”, que é o coletivo que eu faço parte. É um coletivo que a gente faz rima, faz HIP HOP nos vagão de metro e da CPTM, somos em 11 e tem mais pessoas fazendo agora. Então é isso, a gente vive disso, pelo menos eu vivo disso. Tenho dois filhos, tenho uma esposa, pago aluguel e eu vivo do Freestyle de vagão, vivo disso literalmente porque não faço mais nada da minha vida”, conta o Mc.

Por ser no transporte público, onde é proibido qualquer tipo de apresentação ou manifestação artística, eles trabalham correndo risco e caso a segurança os pegue, os colocam para fora. “Se os guardas pegarem os caras tira, não pode. A gente atravessa a cancela, compra o bilhete e volta e já volta pior ainda, porque se os caras expulsarem a gente volta 10 vezes pior e rimando mais que tudo, e vai rimando e brincando com a galera. É muito estressante, você já está meio bolado com alguma coisa do seu dia a dia, você pegando aquele vagão, e aquela rotina, e chega ao vagão um cara simpático com uma caixinha na mão e fazendo umas rimas colocando

todo mundo pra cima. Nem todo mundo colabora assim, favorecem com uma moeda ou cédula, mas são umas paradas que eu ganho e que vou guardar a minha vida inteira. Pessoas jogam coisas no boné na hora que vou guardar pra vida inteira. E é isso, levando a cultura no dia a dia, eu vivo e respiro o HIP HOP”.

Por se tratar de uma batalha livre não existem limites nas competições, às ofensas sempre irão acontecer, o que pode assustar as pessoas inicialmente ao se depararem com uma batalha pela primeira vez, mas tudo não passa de uma brincadeira, independente de qualquer coisa. A única regra principal é, não poder batalhar bebendo, fumando, ou ascendendo qualquer tipo de drogas. “Não tem nem como a gente responder por nada, eu não respondo por nada, tem base da policia e atrás a base da GCM, então a gente só fala pra galera respeitem o perímetro, só não arrastem”, diz o organizador.

As mulheres também têm o seu espaço nas batalhas, fundada em 2014, a Liga feminina de Mc’s, tem como principal objetivo lutar pelo reconhecimento feminino e protagonismo da mulher no hip hop.

A liga começou com a ideia de mostrar a presença das mulheres nas batalhas Freestyle, com as mais variadas formas de expressão artísticas expondo a união entre as mulheres.  E com o crescimento ganham reconhecimento, pois a liga não permaneceu apenas em São Paulo, outros estados como Rio de Janeiro e Minas Gerais também tem as suas batalhas femininas organizadas pela Liga.

“Eu vou a varias batalhas, eu gosto de ir a batalhas femininas em que as meninas representam pra caramba”, diz a frequentadora há dois anos Maísa Gomes, 17, que costumar ir com amigos. E ainda completa “É uma forma das pessoas expressarem o que sentem, porque muitas vezes você esta guardando alguma coisa e você não vem aqui para humilhar ninguém ou descontar sua raiva, e sim expressar o que esta sentindo”.

A Mc Jéssica Tavares, 18, encara a batalha como cultura e vocabulário, em que independente se vai ganhar ou não, mas vale a participação, e com a troca de experiência já desenvolve conhecimento para na próxima batalha sair mais favorável, “a diversão já é valida, tem coisas que o dinheiro não paga, uma boa diversão é bem valida”.

Em suas rimas dotadas de muita criatividade, por ser mulher já sofre o preconceito apenas por duelar, muitos homens costumam humilhar, ofender, sempre rebaixando a mulher.  Já houve casos em que homens não quiseram duelar contra uma pessoa do sexo oposto, deixando explicito o preconceito no movimento que tem como princípio lutar justamente contra o preconceito. Ela conta “que já teve casos que a pessoa vem me desprezando e quando viu quem eu realmente era se impressionou com a minha capacidade”. 

Entre suas citações, ela destaca a Flora Matos, cantora de rap sendo considerada por muitos como uma das mais promissoras MCs do país. Flora inspira a Mc “ela é DJ dos próprios beats, ela faz sua musica e seu beat”.  Ainda conta que para o seu futuro pretende ter o próprio CD e abrir uma ONG com crianças necessitadas por atualmente trabalhar com crianças com câncer.

As redes sociais ajudaram muito nas divulgações das batalhas e eventos da liga, o que ajudou a expandir para todo o mundo, mas mesmo assim ainda existem pessoas leigas no assunto, o que leva muitos Mc´s realizarem sua própria divulgação:

“Minha divulgação sou eu mesmo, eu quero ganhar dinheiro sim, mas não esbanjar a grana montar meu estúdio dentro de casa, lançar minhas musicas na internet. Comunicar-me virtualmente com o mundo, essa é minha meta que minha voz alcance todas as comunidades e o resto conquista com o tempo”. Conta, Kauãn Weslei animado.

O Mc afirma “E um jeito de sobrevivência meio maluco”. Pois já sofreu preconceito por parte da família, chegaram a olhar de um jeito diferenciado apenas por cantar rap. Continuou a cantar graças ao seu tio, logo que ele começou com a ideia de seguir na música. E completa “eu sou o tipo de Mc que cola desde funk até em baile de jazz em vários estilos musicais. Não só o rap já pra me desprender disso por ter esse certo olhar de preconceito. Samba? Eu curto pra caramba, meu tio é do samba eu comecei a cantar por causa dele, graças a ele que eu tenho um espaço na família pra cantar, se

não fosse ele seria difícil só faca no pescoço”.

E para as pessoas que julgam ao menos sem conhecer a cultura ele deixa essa mensagem “A gente acredita no poder da nossa mensagem e quem não acredita meus pesamos tenho nada para fazer”.

O Mc Erick Santos, 22, tem uma visão diferente de pensar sobre as batalhas de sangue atualmente trabalha em shows, fazendo seus próprios beats e vendendo para ganhar o seu sustento, ele comenta “A batalha é muito boa pelo seguinte além de estar incentivando a molecada, esta dando a oportunidade, de que não tem como começar em shows, e como existem duas

batalhas de tema e a de sangue gera uma polemica, na minha opinião eu não gosto da de sangue porque eu tenho que atacar sem ao menos conhecer a pessoa, e nem todo mundo mantem um respeito atacar sua rima, virar um clima pesado”.

Começou no rap muito cedo com apenas 15 anos, sofrendo preconceito até por parte de sua mãe, pois não aceitava esse meio de sobrevivência maluco, ate por conta das roupas, cabelo e pela própria musica que antigamente falava muito sobre os crimes, já perdeu oportunidade de emprego por julgarem ele como se fosse um vândalo.

 “Eu costumo não chamar meus pais pelo fato de ser um movimento rua, então tem muito maloqueiro, muito maconheiro, não falando mal, mais já chamei minha mãe para algum show e ela não apoia é totalmente contra já meu pai diz se é o que eu quero então segue em frente, só fala para não quebrar a cara mais para frente, em lugares tranquilos eu costumo levar, até para ter uma visão diferente”, conta animado.

Com todas essas questões, decidiu mudar a opinião das pessoas reafirmando que o rap incentiva sim a mudar de vida, a querer crescer e se formar, ele conta como foi o começo da sua trajetória, “Bom eu já comecei com o rap depois que sai da escola, com meus 15 anos eu era aquele aluno nerd, chegou ao ensino médio foi caindo totalmente as minhas notas, eu me desinteressei totalmente pelo estudo, comecei a fazer rap, me interessei pelo curso de letras, eu tenho certeza que se não fosse o rap hoje eu não estaria estudando, por mais que seja puxado pela distancia, eu tive a iniciativa de tentar”.

Ele conta sobre uma experiência que passou no começo do movimento, “eu tenho muita sorte alias não é sorte é Deus mano, vai de quem acreditar, por exemplo, eu fiz a abertura do show do Mano Brow na Virada Cultural do Jardim Helena, tinha vários grupos, estava apertado e todos queriam cantar e as minhas musicas eram de sete a dez minutos e com isso eu já sofri uma pressão as pessoas gritando pra parar, cortar o beat, enquanto eu cantava a musica já via que o rap é sujo, se você não tiver ali por coração, é papo que eu posso morrer por causa disso, mais eu não vou desistir mesmo sabendo disso, você tem que gostar muito do que faz”.

União, pois na casa que não há pão todos gritam mais nenhum tem razão.

As crianças estão muito presente na vida do Mc, as maiorias de suas letras estão voltadas para criançada, querendo mostrar uma realidade diferente para eles, não viver nesse mundo de ostentação como está atualmente. Ele cita um trecho de sua música “Não me canso de falar que criança é rei na terra, mais tá com visão moderna não consegue se enxergar treta tudo até o trafico que seria engraçado se não fosse trágico e se ninguém fosse chorar”.

Sobre o funk a influência que a música traz, ele diz “o funk é uma musica dançante e eu não sei fazer musica dançante, tem muito funk consciente, mais é um pouco de preconceito também, o funk faz o efeito contrario do que o rap esta tentando”. Mais eu respeito e completa “o funk esta meio que destruindo a periferia é uma cultura e sendo cultura tem o poder de estragar, se não fosse não teria, a molecada gosta de andar de ciclone por ser algo caro, tênis caros e às vezes não pode ter nada disso, morando de aluguel assim acontece o pior vão roubar para andar bem vestidos, tudo para se aparecer. A mulherada dessa cultura preza muito o material se eu não tenho, eu não sou ninguém. A cultura funk está se estragando por isso, na época do Felipe Boladão, era do crime, porém tinha um respeito, hoje em dia não é tudo diferente”.  A música tem o poder de mudar de transformar a mente sim, e a cultura funk está estragando a periferia, e o que a gente tenta com o rap, é mudar totalmente isso, nas letras mostram uma visão diferente sobre o mundo. 

Rumo ao Estrelato

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Por Luana Costa Meneses e Lucas Sedemac

Formar uma banda sem nenhum tipo de contrato. Sair mundo a fora aceitando o desafio que é viver de música para alcançar o estrelato. Esse é o principal objetivo das bandas independentes.

Mas afinal, o que seriam as bandas independentes? São bandas que não possuem contrato com grandes gravadoras e não são atreladas a nenhum tipo de empresa mainstream. Fazem a sua própria divulgação utilizando meios como a Internet, pequenos shows de rua, bares ou em festivais de música. Cada vez mais ouvimos falar em Bandas Independentes e como elas estão dominando o cenário musical, principalmente em festivais cercados pelo mundo todo.

Um exemplo são os Coyotes California. Os Coyotes são uma banda de rock independente fundada em 2007 por Falcão Moreno (vocal), William Antonetti (Guitarra), Fabiano Rodrigues (Bateria) e Leonardo Serezuela (Baixo). A banda tem como sua principal característica os ritmos consagrados do passado e da atualidade, remetendo ao movimento da Contracultura, que surgiu no ano de 1960 e é de caráter político e (anti) social, ficou conhecido como uma cultura underground. A banda mistura ritmos como o rock, rap e o groove.

Tiveram sua primeira apresentação no Festival Café Aurora em 2007. Participaram de uma competição de bandas e foram vencedores do festival. Graças ao prêmio eles conseguiram entrar em estúdio e gravar seu primeiro EP, lançado em 2008 intitulado de “Como as Mulheres”. De lá pra cá, a banda gravou mais dois CDs, o HelloFellas (2011) e o A Minha Parte Eu Quero Em Groove (2015).

Muitas bandas não optam por serem independentes, eles simplesmente buscam um resultado através da música e nem todos conseguem um contrato em alguma gravadora, mas isso não significa não fazer sucesso, pois grandes bandas alcançam o estrelato sendo independentes divulgando seu trabalho. É o caso dos Coyotes, segundo Falcão Moreno, a banda não optou por ser independente, simplesmente são, pois sem muito dinheiro ou empresário, o ideal é fazer o seu trabalho com vontade, convicção e sendo você mesmo.

Falcão conta que na trajetória da banda existiram algumas dificuldades, mas destaca que a maior delas é a falta de valorização do trabalho, pois os custos para manter uma banda são altos, pois se investe em equipamentos, manutenção, gravações de CDs e Vídeo Clips e nem sempre esse trabalho é valorizado, fora a falta de estrutura em casa de eventos.

Mas o vocalista acredita que apesar das dificuldades, existe espaço para as bandas independentes no cenário da música brasileira, mas que poderia ser um espaço maior, pois o rock não está mais tão influente nas grandes mídias, apesar de existir o Rock In Rio, Falcão diz que o Lollapalooza está mais à frente do que o próprio Rock In Rio nesse sentido, pois a quantidade de bandas independentes no Lolla é grande, o que gera mais espaço para elas.

Mas para Caio Bars, vocalista da banda 5PRAStANtAS, o espaço das bandas independentes no cenário da música brasileira também depende do público, do interesse de querer ir nos eventos, em show autorais e se interessar pelo novo.

Formada em São Paulo, no bairro da Pompéia, 5PRAStANtAS é composta por Caio Bars (vocal), Ciro Rezende (bateria), Paulo Pascale (baixo), Thiago Lecussan (guitarra) e Gabriel Kanazawa (teclado), a banda nasceu sob influências equivalentes do rock nacional e internacional, junto a uma pitada de blues.

Em 2011, a banda lançou seu primeiro álbum, Outra Frequência. Em 2014, lançaram o EP Indícios e em 2015 o EP Você Trouxe de Volta. Agora em 2017 a banda lança seu novo EP intitulado como Bivolt.

A 5PRAStANtAS ganhou destaque após vencer duas edições consecutivas do Manifesto Rock Fest em 2008, primeiro como escolha do público e depois como melhor banda e melhor música autoral.

Caio comenta que agora as bandas independentes possuem a plataforma da internet para ganhar mais espaço no cenário musical. Hoje, por menor que sejam

seus recursos, você consegue ter uma Fanpage no Facebook e divulgar o seu trabalho e ter acesso direto a blogs e rádios universitárias para que escutem sua música e assim promover o seu trabalho. Porém, as bandas independentes dependem muito de seu público, do interesse em ir ashows autorais ou em festivais independentes, isso ajuda na divulgação da banda, no reconhecimento do seu trabalho e ajuda financeiramente também, já que a parte financeira é um grande desafio a ser traçado.

Caio comenta que o problema financeiro é bem difícil, pois é através do investimento pessoal dos integrantes e de crowdfunding, que seria o financiamento coletivo, eles conseguem manter a banda. Eles já entendem que possuí uma base de fãs que pode ajudar nesse tipo de financiamento, porém, Caio diz que não pode fazer crowdfunding pra tudo, então boa parte dos lucros da banda vem pelo investimento pessoal dos integrantes.

Apesar dos contrapontos, a música faz parte da vida e dos sonhos de muitas pessoas que querem entrar nesse cenário. A vocação, a luta pela realização de um sonho e a busca do reconhecimento é o desejo de vários artistas independentes, como o CoyotesCalifornia e o 5PRAStANtAS.

A 5PRAStANtAS pretende lançar um novo álbum no ano que vem e atingir novos públicos, crescer a base de fãs e ter shows com mais pessoas em São Paulo. O CoyotesCalifornia pretende realizar mais shows, criar novos conteúdos e entrar em estúdio e eles ainda deixam um recado para quem pretende tocar em uma banda ou ser um artista independente. “Seja você mesmo! Toque com a sua verdade. Ensaie o quanto puder. Estude seu instrumento. Ouça muita música, todo tipo de música. Vá a shows grandes e pequenos. Organização e disciplina são as palavras chave.”

Outra banda que tenta se lançar e firmar no cenário musical é o Verdecaffé. Os músicos do Verdecaffé fazem um som que unem elementos rock, hip hop, MPB, soul e reggae. Israel Fantuzzi, vocalista da banda, nos contou um pouco da trajetória deles: “Estamos na estrada há seis anos, porém o tempo médio na música de cada integrante é de 16 anos. Flávio Valeije (baixo) começou na música bem cedo, já passou por outras bandas e me conheceu em uma Temakeria. O Ale Branco (bateria) está desde a fundação da Verdecaffé ha 6 anos atrás e nos conhecemos um pouco antes do primeiro show da banda, através de uma amiga em comum. Ambos, Ale e Flávio são paulistanos. Eu sou mineiro e comecei na música aos 13 anos. Hoje tenho 32 e já passei por bastantes histórias, assim como os meus parceiros de banda. Vim para São Paulo há algum tempo e fundei à Verdecaffé no intuito de trabalhar e viver só de música. Hoje estamos com um CD lançado.”

Através desse depoimento, percebe-se que muitos integrantes de bandas independentes passam por diversas experiências anteriores e muitos já têm bastante bagagem na música. São os desafios de buscar o estrelato através da música.

Israel também nos contou sobre o espaço das bandas independentes no cenário da musica brasileira atualmente: “Mesmo muitas casas (de shows) ainda dando preferências para bandas de covers, existe um público muito grande que procura escutar bandas novas e ai que está o grande desafio de uma banda independente, alcançar esse público em potencial. Uma das coisas que atrapalhou muito a cena do rock era a rivalidade e aquela competição desnecessária que havia entre as bandas, mas hoje esse cenário está mudando e muitas bandas estão fazendo parcerias e apoiando umas às outras e com isso a cena vai melhorando e elas juntas podem conquistar ainda mais espaço.”

E terminamos com um conselho do músico aos que estão começando e tem o grande sonho de viver de música: “Acredite no seu trabalho e não tenha medo de meter as caras, o caminho não é fácil e muitas portas vão bater na sua cara, mas não desanime porque com um pouco de paciência e dedicação muitas portas vão se abrir também.”

Funkultura

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Por Lucas Sedemac

Um ritmo envolvente, com beats dançantes, carros luxuosos, mulheres glamorosas, muito dinheiro. Ostentação.E com o poder de reunir uma multidão de jovens em vários cantos do Brasil ao mesmo tempo. Esse é um resumo do mundo do funk, mas que vai muito além disso...

O funk é o ritmo musical que ganha cada vez mais fãs e está se expandindo não só pelo Brasil, mas sim pelo mundo. Em contrapartida, o mundo do funk sempre gera muita polêmica por suas letras e videoclipes, e tem muitos “haters” (pessoas que odeiam algo em específico e são totalmente contra), talvez seja o estilo musical que mais tenha então muito preconceito é gerado em cima do estilo e de seus adeptos.

Nosso entrevistado é um MC que já está no cenário musical do funk, Mano Vitinho. O MC diz que nunca teve muitos problemas na questão do preconceito, e fala que as pessoas também devem se dar ao respeito: “Nunca sofri nenhum tipo de preconceito por morar na comunidade ou por ser mc, quer dizer, aparentemente não. Em todos os lugares eu sempre fui muito bem tratado, independente do público que estava lá, eu sempre fui bem recebido e sempre gostei de saber chegar e sair de algum lugar. Acho que na maioria das vezes, quem faz o preconceito somos nós mesmo, porque se você souber sair e chegar de um lugar, você chega e sai numa boa.”

Fato é que o funk aderiu à prática do consumo, e vimos muito isso no funk ostentação, estilo no qual os MC’s esbanjam de luxúria, sempre com carros caríssimos, dinheiro e muitas mulheres. As pessoas hoje querem estar no baile funk, querem estar nesse meio, e mais, querem ser como os caras do funk ostentação. É o funk como produto.

Muito se discute sobre o funk como cultura, e, querendo ou não, isso é uma realidade e o funk é sim parte da cultura brasileira, e isso é reconhecido por lei. Foi em 2013 que a Comissão de Cultura da Câmara aprovou o estilo musical como manifestação cultural, sendo assim parte da expressão musical de nosso país. O que muitos questionam são suas letras que, muitas vezes fazem apologia ao crime, tráfico de drogas e tratam mulheres como submissas.

Como forma de reunião e comemoração dos funkeiros, como uma grande festa, temos os famosos e conhecidos bailes funk. Os bailes ocorrem quando um grupo, geralmente muito grande de pessoas, se reúne em determinados locais para ouvir, dançar e cantar o funk, onde a maioria são aqueles que vão para curtir a festa e o momento. Esses locais são desde casas noturnas até mesmo ruas que são fechadas pelos eventos. Desses bailes surgem muitos MC’s, que vão com o objetivo de mostrar seu trabalho e entrar no cenário musical. “Na questão de reconhecimento o baile contribuiu bastante, eu pude ser visto aqui na comunidade onde moro, ser mais reconhecido nas regiões e nos bairros mais próximos também.” Diz o Mano Vitinho, que se lançou no mundo do funk através dos bailes. “Deu para trazer bastante reconhecimento, conheci bastante gente, bastante contato, de uma coletividade maior assim, com as pessoas que estão

envolvidas nesse ramo entendeu? Mas, de uma forma geral contribuiu bastante, e muito mais no aprendizado na vida.” Completa o funkeiro.

Exemplos de grandes bailes funk de rua são o do Helipa, em Heliópolis, e o DZ7, em Paraisópolis, mas a grande concentração está na zona leste, em locais como São Miguel Paulista, Cidade Tiradentes e Itaquera.

Esses bailes geralmente começam a noite, e vão terminar apenas no outro dia pela manhã, o que atrapalha muitos moradores das regiões, que se sentem incomodados com o barulho até altas horas, muitas vezes por precisarem dormir para trabalhar ou estudar no dia seguinte. É o caso da Diana, que é Peruana, mas vive e estuda no Brasil, e mora em Paraisópolis há um ano. Diana diz que se sente incomodada com o barulho, eles colocam os carros fechando as ruas e os sons nos carros, e que também no outro dia quando precisa acordar cedo para ir à faculdade, não tem ônibus por conta da ocupação dos bailes e por fazerem até coisas obscenas dentro dos transportes. Vários moradores sentem o mesmo e são eles que chamam a polícia, mas Diana acrescenta que eles estão diminuindo bastante a freqüência em que ocorrem os bailes e que nunca viu violência, quando precisam passar  pelas ruas eles liberam sem nenhum problema e que pagam pessoas para limparem os locais no dia seguinte.

Outra polêmica envolvendo o funk ocorreu recentemente, quando um projeto de lei que pretende criminalizar o funk ultrapassou a marca de 20 mil assinaturas que eram necessárias para chegar ao Senado. Marcelo Alonso foi o autor do projeto e alega que o funk é um crime a saúde pública e propaga a violência. Por outro lado, funkeiros renomados, como a Anitta, e também o deputado Romário Faria vão totalmente contra o projeto e defendem seu movimento. Essa história ainda está se desenrolando e pode gerar muito assunto.

Amado ou odiado, o funk está crescendo, se desenvolvendo e se expandindo, tem letras e estilos para todos os gostos e muitos MC’s, que são os cantores do ritmo, ganham sua vida fazendo isso, além de alcançarem o sucesso e terem milhares, até milhões de fãs e seguidores. O funk incomoda, porém ajuda muita gente, e é diversão para muitos. É um estilo musical dentre os tantos que temos no Brasil e chegou a um patamar que poucos conseguem.

Mano Vitinho termina a entrevista nos dizendo: “O que eu acho do patamar que o funk chegou? Eu acho foda, ainda mais por saber que muita gente enxergou um sonho nesse ritmo musical. Porque o funk, na verdade, não exige muito do artista, então tem uma grande rapaziada, um monte de moleque, uma massa enorme de gente que tipo, acredita que através desse ritmo musical pode realizar uma parte dos seus sonhos. Hoje em dia você vê que os mc’s conseguiram comprar apartamento, carro, casa para suas mães. A realidade de nossas vidas muda totalmente, então de alguma forma eu admiro muito isso, mais pelo fato de poder mudar a realidade de algumas pessoas que vieram de onde eu vim.”

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