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”Dinheiro, poder e respeito, isso é Rap. O Rap é o estilo mais versátil que existe” Guilherme é MC e Youtuber e tem um canal desde 2013 que aborda temas ligados ao RAP e a cultura hip hop. Seu primeiro contato com o rap foi em 1998 com o grupo Racionais MC’s grande influência para quem está no meio hoje e ouvia em fitas e na rádio.

 Zetre como é mais conhecido, faz vídeos de reação analise, onde ele se grava reagindo ao assistir clipes de rappers nacionais e depois de ouvir a musica ele faz analise de algumas técnicas existentes no rap “ A metáfora, o flow, a métrica, são elementos da cultura Hip Hop”, algumas figuras de linguagem presentes nas técnicas analisadas por ele. ” Você pode falar da mina que perdeu,ou da que ganhou e tratar disso dentro de algumas ramificações ,como o gangsta ou underground, bumbap (uma vertente de produção menos sintética) ou uma trap (batidas mais eletrônicas)“. Apesar desse estilo musical estar evoluindo com o tempo em seus temas e na produção, ainda não vemos muitas mulheres no meio e isso fica evidente na porcentagem de inscritos superior de homens no canal de Zetre que acredita que o publico feminino sendo menor isso não do tanto acesso, mas que ele gosta e ouve algumas dessas mulheres em seu celular, até mesmo para se manter informado.

“Talvez a falta de convite, talvez a falta de

interesse”. A rapper Mariana Mello diz que esse seja o motivo pelo qual as mulheres aparecem menos, mesmo tendo um crescimento de interessadas pelo meio com o passar dos anos. Para ela não existe rap feminino e masculino “Rap é rap. Quanto mais mulher foda na cena melhor, porem é só um gênero” apesar de o meio nem sempre a acolher e ser discriminada por ter uma carreira paralela como modelo. O próprio meio faz com que as mulheres sejam fortes para lidarem com os preconceitos diários e lutarem pelo seu lugar e por vezes aparentarem ser más. Em uma de suas músicas Mariana canta “Bad girl tem um monte, até queria ser também, mas pregar a maldade não tá ajudando ninguém” buscando passar a mensagem de que ser vista como durona pode ser legal, mas que isso afasta as pessoas.

Os dois artistas tiveram seu começo com a ajuda da internet, Mariana começou escrevendo em cima de beats (batida em inglês) do Youtube e colocava suas letras no Instagram e Zetre com seu canal FALATUZETRE “ Eu dependo de mim. Antes tinha que se investir um dinheiro na rádio para tocar, aqui eu tenho meu publico ,e minha independência “. Essa nova geração hoje pode contar com o auxilio da tecnologia para divulgarem seu trabalho e alcançarem um publico maior e ainda manter um contato mais próximo com seus fãs.

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Por Pamela Nagode

O estilo rapper de se vestir

As roupas largas e coloridas mostram de onde vieram esse estilo sem regras de combinações que carrega influencias jamaicanas, originalmente de onde o rap nasceu. Os tecidos são confortáveis para que o artista fique horas rimando. Hoje muitas marcas patrocinam produtores de conteúdo como Zetre que diz não compra mais roupa, só as ganha. Mariana já curti colocar a mão na massa “É muito mais gostoso ir ao brechó por ser barato e garimpar é uma delicia, fora que reutilização das roupas é muito importante para a natureza, é uma forma consciente e a moda vem e vai, lá tem muitos tesouros autênticos”. No estilo ostentação Zetre se planeja para colocar Grillz,as famosas próteses dentárias de jóia “ Eu me inspiro no Lil Wayne e no TravisScot” Rappers americanos.

A Velha Guarda

O produtor musical Nave Beatz que traz em seu invejável currículo artistas como Criolo, Karol Conka, Emicida, Marcelo D2, Flora Mattos, teve seu início de carreira nos anos 2000 onde a internet ainda não era popular e as novidades chegavam no Brasil atrasadas e em fitas cassete e posteriormente em CD’s. Nave relembra a dificuldade em se produzir por falta de material e lugar. “Antigamente todo mundo dependia do aluguel de um estúdio pra conseguir gravar, mixar e masterizar” e as novidades chegavam no centro de São Paulo e ele morava em Curitiba onde não se tinha muitas pessoas da cena Rap.

Com a expansão da internet ele teve que se adaptar as mudanças na forma de produzir, tudo se tornou mais fácil e rápido e a procura por sua produção aumentou “Hoje com um laptop você consegue fazer tudo isso e ainda lançar na internet. A grande diferença é a facilidade que a tecnologia nos dá”, ele complementa que atualmente é dependente da internet, que todos desse meio são e que sua geração acompanhou desde o começo essa revolução. Sobre as novas gerações de produtores nacionais ele acredita que a evolução seja necessária e que o futuro é eletrônico e sintético.

Um por todos

e todos pelo Rap

“O rap é uma atualização constante, isso é meio obvio porque cada época é uma coisa, cada pessoa é uma ,de 2014 para cá é uma influencia, imagina em relação aos anos 90. O modo de se vestir, de falar, de se comportar, ate a notoriedade na mídia” Zetre diz que a evolução dos tempos reflete na cultura Hip Hop e que as pessoas devem estar abertas e não deixarem o medo de se atualizarem por diferenciar o que seja ou não desse estilo musical, afinal rap é discussão.

Nas Rotas da Música

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Por Bruno de Bonis  e Nataly Assunção

Os Embalos de Sábado à Tarde

É possível avistar, ao longe, corpos rodopiando sincronizados em um ritmo contagiante e passos seguros de mulheres que são guiadas por seus companheiros de dança em um espaço que proporciona experiências novas, marcantes e com diversão gratuita. Estamos falando da Casa de Cultura Tendal da Lapa, gerida pela Secretaria Municipal de Cultura - considerada um dos polos multiculturais mais interessantes de São Paulo. Acontecem às terças, quartas, quintas e sextas, das 09h00 às 22h00; sábados e domingos, das 09h00 às 18h00 variadas programações na casa, que conta com cerca de 7 mil m², abrigando a maior casa de cultura da cidade de São Paulo. Visitamos, às terças-feiras, um dos estilos de dança mais pedido e contagiante do ambiente: o Samba Rock. Esse estilo musical surgiu da criatividade dos frequentadores dos bailes - em casas de família e salões da periferia de São Paulo - no final da década de 1950 e começo da década de 1960, em um mix de movimentos do rock and roll com os passos do samba de gafieira. A Casa de Cultura contabiliza de 250 a 300 pessoas que frequentam o local para integrar a programação do Samba Rock, que tem como foco principal a difusão da arte. Toda última terça feira do mês, é realizada uma grande festa no ambiente.

Professor voluntário da casa e empreiteiro de obras, José Aristóteles Ferreira, aos seus 56 anos, elogia o movimento: “O Samba Rock representa saúde, interação entre pessoas e vida saudável a todas que tem o privilégio de praticar.” Ele que mesmo com tantas ocupações, se dedica a dar aulas no espaço voluntariamente e faz algumas orientações: “Recomendo a qualquer pessoa maior de idade a

Do baile de idosos ao samba rock, do sertanejo universitário ao MPB. Ambientes simples, familiares, tradicionais, econômicos e dançantes. Confira os agitos de São Paulo em um universo rico, plural e multifacetado da grande metrópole.

“Às vezes tem alguma encrenca, alguma traição. Uma vez, uma senhora veio para o baile e pegou o marido dela com outra. Aqui rola muita traição e a mulher ficou doida”, confidencia a cautelosa Cecília, que, aos seus 79 anos, está sempre acompanhada de Carlos Brasiliano. Eles frequentam o baile da 3ª idade todos os sábados, com o objetivo de manter uma vida saudável e a longevidade acima da média. Ela já conhecia o lugar há anos. Ele, com tantas indicações, adorou. “O que tem de melhor aqui é a amizade, né? Aqui você vai arrumar muitos amigos. Você faz muita coisa, troca ideias, compartilha experiências e o melhor: pode ouvir músicas por horas. Para a saúde, isso é ótimo”, nos conta o senhor de 63 anos vestido casualmente com seu jeans e camisa pólo com um sorriso no rosto contagiando alegria e energia.

Os bailes que funcionam às terças, quintas e sábados, das 13h00 às 17h00, no bairro da Água Branca, são frequentados por pessoas de todos os lugares da região da cidade de São Paulo. Aos sábados, dia mais movimentado, cerca de 1.100 pessoas bailam ao som de uma banda, que toca disco, pagode, forró, jazz, entre outros ritmos nas duas pistas disponíveis no espaço. “No sábado, tem música ao vivo. Meu Deus! Sempre vem uma banda, dançamos e cantamos”, diz Carlos. Entusiasmada, a aposentada Ana Dias, aos seus 56 anos, gosta especialmente de country e sertanejo, afirmando ser um dos estilos mais dançantes, em sua opinião.

Os bailes criados para a terceira idade promovem uma maior integração e socialização dos idosos, pois são espaços

agradáveis e com clima familiar. Mas não imagine que por serem mais velhos, eles não causam situações parecidas com as de baladas frequentadas por jovens. As pessoas não escondem que também estão ali para paquerar. “A mulherada se arruma demais por aqui”, enfatiza Cecília – com sandália de salto, bijuterias combinando e um batom vermelho marcante, balançando o seu vestido florido ao som da música que tocava ao fundo. Carlos brinca, em seguida: “as ‘véias’ aqui são demais”.

Grande parte dos frequentadores são das classes C e D, que não se incomodam com longas viagens de trem, metrô e ônibus, já que fica acessível para esses meios de transporte. Dona Ana, que reside no bairro Vila Nova Cachoerinha (Zona norte de São Paulo), ressalta que é muito importante estar ali: “No baile nós nos igualamos, aqui tem de tudo: branco, alto, baixo. Observamos que em outros lugares, em um banco, metrô, ou na casa da própria família, onde um come na mesa da cozinha e outro na sala, não há comunicação. Mas aqui, ninguém tem vergonha, sentam todos juntos. Aqui, nós colocamos as nossas melhores roupas. Pode estar frio ou calor, nós nos sentimos felizes assim. É muito lindo isso. E o mais importante, é ver que as pessoas estão bem, eu me sinto bem, e vou embora tranquila.” Carlos completa: “aqui somos uma família”.

Dizendo isso, Carlos volta para a pista - arriscando alguns passos da agitada música que era possível ser ouvida e mesclada ao som das incessantes risadas daquele público animado, possuindo o intuito principal de se divertir e sentir a juventude novamente, a cada movimento do corpo.

Uma Roda de Samba

Só Para Nós

frequentar, ou menores junto aos pais.

São lugares tranquilos que busca a diversão, interação e troca de conhecimento cultural.” Questionado sobre o estilo dos frequentadores, ele diz sem se precipitar: “Pessoal vem pra impressionar”, brinca.

A Cultura do Samba Rock ganhou tamanha importância que foi oficializada como “Patrimônio Cultural Imaterial de São Paulo”. José conta que a dança tem passos bem definidos; entre eles, uma fusão dos giros característicos do Rock Norte Americano, o Swing Brasileiro e o Samba.

Já a música, é uma evolução das grandes bandas de Jazz e do Rock. “Eu participo dessa cultura desde 1976”, enfatiza.Fábio Rogério ou “Fabinho”, como gosta de ser chamado, aos seus 40 anos não perde uma programação do espaço e confessa: “Já vi muitos relacionamentos iniciarem aqui.” Em uma conversa rápida, ele conta que conheceu o espaço através de uma rede 

social: 

“Fiquei sabendo através de um grupo do Facebook chamado Amigos do Samba Rock”. O que mais chamou a sua atenção foi

o fato da Casa de Cultura não fazer

distinção dos frequentadores, e com segurança diz: “O Samba Rock cura tristeza, depressão, traz outro sentido para a vida. Fazemos novas amizades, amores, eu sou a prova viva disso.”O Tendal ainda oferece 24 oficinas culturais gratuitas para a população, espaço para ensaios de grupos, festas típicas e exposições. O ambiente abriga também um cineclube, que exibe filmes populares todas as terceiras e quartas quintas-feiras do mês.

Eventos especiais, como feira de artesanato e oficinas ao ar livre de capoeira e dança de salão, também são oferecidos pelo espaço, sendo todos gratuitos.

Genilsa Nascimento, agente de atendimento e também frequentadora do local, enaltece: “É um ambiente de muito respeito. Encontramos idosos, crianças, e não deixa de ser um ambiente favorável a paqueras.” Aos seus 35 anos, completa, aliviada: “É libertador. Traz alegria para o corpo e para a alma”. Para a tradutora, Patrícia Sanches, de 31 anos, o que mais chamou atenção no local é a oportunidade de aprender. “Aqui tem apresentações de grupos já formados e aulas básicas pra quem quer conhecer.” Questionada sobre a sua percepção do ambiente, ela nos assegura: “Aqui as pessoas têm um vínculo. O elo que nos une é a dança.”

Ao se afastar, observamos que, em seguida, Patrícia é convidada para dançar - que não hesita em aceitar o convite proposto pelo rapaz - e cada movimento aprendido no local é colocado em pratica naquele momento, sendo possível notar a alegria no olhar daquela mulher, que escolheu aquele ambiente para provar a felicidade que o samba fornece para cada amante de boa música brasileira.

Um Peão Para Cada Dama

"E já pensou? O ar condicionado no 15 e a gente suando. TV no volume mais alto e a gente se amando, o que é que cê tá esperando?" - Música de sucesso na voz do cantor Wesley Safadão, é o primeiro som que ouvimos ao entrar no ambiente - avistamos diversas pessoas conversando, entre homens e mulheres segurando copos de cerveja nas mãos, corpos colados e evidentes trocas de olhares, além de um clima de descontração eminente em um local próprio para quem busca azaração sem medo de gastar um pouco mais pela diversão. Tudo isso gerado pelo famoso ritmo sertanejo universitário, que traz um enfoque em músicas que falam de amor, pegação e diversão, onde a cada minuto um novo par é formado. É assim que nos relata a estudante de Psicologia, Juliana Estima de 25 anos, uma frequentadora assídua na vida noturna paulistana.

Frequentadora do Villa Country, Juliana diz que a balada é responsável por parar o trânsito da Avenida Francisco Matarazzo, na Zona Oeste paulistana. Ocupa um antigo galpão da era industrial e foi totalmente mobiliada com peças garimpadas durante um ano em fazendas no Estado do Texas e na região de Nashville, Tennessee (EUA), o berço da "country music".

Ela conta que adora o sertanejo universitário, oriundo de uma mistura da música sertaneja, da música brega com toques e batidas provenientes do arrocha, onde a maioria dos jovens universitários se identifica com o gênero. Além das músicas procedentes do estilo, ela gosta dos cantores e diz: “O sertanejo

universitário veio com tudo, menos romântico e mais para agradar os jovens do século XXI. Sertanejo da forma como os jovens enxergam. Transmite liberdade, desapego e amor”.

Local é decorado com quatro contêineres, ambiente abarrotado de quadros, lustres, móveis, rodas de diligências, cabeças de boi e até uma estátua de cavalo que mede 2,5 m de altura e pesa 350 kg – praticamente todos os ambientes lembram algum filme de caubói. “Eu vou a caráter, coloco minha bota, meu cinto com fivela e olha... Eu faço sucesso com a mulherada.”, não demora a dizer o supervisor técnico - Alan Mascaliovas de 33 anos -  que tem como principal objetivo dançar e conhecer novas companhias.

O horário de funcionamento da casa noturna costuma ser das 22:00hrs às 05:00hrs, sendo que pode começar mais cedo e/ou terminar mais tarde. Jéssica Soler, auxiliar administrativa, com seus 20 anos visita pela primeira vez o local e não economiza elogios: “É um ambiente confortável para quem gosta de dançar, respeitoso, com pessoas bacanas, espaço amplo, iluminação e decoração temática que chama a atenção”, e finaliza: “Estou aqui comemorando o aniversário de uma grande amiga”, ao dizer isso, se despede e corre para perto das companheiras, que abrem uma nova garrafa de cerveja e começam a brindar, comemorando a data que será registrada com carinho em suas memórias em um local cheio de gente jovem buscando se divertir da melhor maneira.

Passa Livre Para a Cultura

E se você tiver a oportunidade de juntar uma das maiores avenidas do Brasil com shows de músicas brasileiras da melhor qualidade, sendo tudo isso proporcionado gratuitamente?

O MASP recebe o “Música no Vão”, projeto que acontece no vão livre do museu e busca resgatar a essência do lugar idealizado pela arquiteta Lina Bo Bardi, para ser um espaço de lazer e convivência no meio da avenida mais movimentada de São Paulo. 

O evento, à partir das 18h, terá apresentações gratuitas de bandas brasileiras. O primeiro show – visitado pela Gambiart – de Marcos Valle & Azymuth, trouxe um encontro entre os ritmos do jazz, funk, soul e do samba, por meio de uma sonoridade única.

O Música no Vão ainda proporciona um lounge com opções de comidas, foods bikes e bar com cervejas Stella Artois, promotora do evento – além de entrada gratuita e possuir todo o seu mobiliário urbano. Nos dias em que suceder o projeto (que tem o intuito de levar cultura e juntar grandes personalidades), o horário de funcionamento do museu se estenderá em duas horas, com visitação gratuita até às 22h, uma oportunidade perfeita para espiar o que o MASP tem de melhor.

“Olha, nesses tempos de trevas eu acho que

é de extrema importância a gente dar

acesso à cultura para a população que é tão carente de coisas boas, né?” Foi com essas palavras que recebemos Alexandre Brandão, proprietário de um Bar da grande São Paulo, que afirma: “Se você for parar para pensar, esses caras (Marcos Valle e Azymuth) fazem sucesso no mundo inteiro e são poucos conhecidos em sua própria terra.”

Alexandre conta que estava indo embora para sua casa quando soube do evento: “Eu vi que estava rolando esse auê justamente na hora em que a menina iria anunciar a atração do show. E então, ela disse: Azymuth e Marcos Valle e eu conheço esses músicos. Os caras são da pesada. E resolvi ficar.” E continua, aos risos: “Eu vim sozinho, olha que loucura! Vim sozinho e acabei encontrando o meu filho com a mãe dele.”

 “Se a gente quiser tirar o país dessa lona que a gente está aqui, ou a gente dá um jeito de fazer com que a cultura chegue a todos, ou a gente vai continuar amargando por anos e anos sobre essa depressão total, em diversos aspectos.”, finaliza Alexandre.

Ainda estão previstas mais nove apresentações, que acontecerão entre os meses de novembro e julho de 2018, sempre em uma quinta-feira de cada mês.

“(O evento) está me proporcionando uma nostalgia ao ouvir música popular brasileira da melhor qualidade.”, diz Mauricio,

comerciante das redondezas.

Pode-se perceber claramente a pluralidade da festança em alguns passos dados pelo vão do MASP. Em uma conversa intimista, encontramos Cecília Mota, Médica da Cidade Paulistana, que nos conta que “adorou” a primeira apresentação: “Treme o chão.” Ela relata que Marcos Valle é da sua época de adolescente e cantarola algumas músicas enquanto o seu marido não aparece. “Ele que me contou sobre o evento e está para chegar.”

As páginas de grandes sites também trazem informações sobre o evento. Foi o que disse a Educadora Física Marla Matos, acompanhada da filha: “Fiquei sabendo pelo ‘Facebook’. Eu acho incrível (os shows) e deve ter cada vez mais. Além de ser um evento gratuito, faz com que as pessoas visitem o museu, o que não é um hábito. As crianças podem vir e é maravilhoso.” E completa: ”Que delicia poder interagir com outras pessoas e ouvir uma boa música.”

Aos poucos, é possível enxergar a aglomeração que se forma em torno do palco que irá receber as atrações principais da vez. O instrumental de “Linha do Horizonte” começa a soar pelos acordes da guitarra de um músico e Azymuth aparece, sendo recebido com aplausos naquela noite recheada de estrelas no céu – assim como no palco.

Histórias e Músicas Extraordinárias

Entrevistamos membros da subcultura gótica de São Paulo a João Pessoa para entender um pouco mais sobre os góticos e seus estilos musicais diversificados.

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Por Thais Santana.

”As pessoas costumam mistificar tudo aquilo que é diferente do seu entendimento, atribuo isso a desinformação e ignorância. Eu acredito firmemente que por se tratar de um meio alternativo, de estilo, modo de vida, gostos etc, temos criatividade para sermos quem quisermos ser, independente de outros fatores. Há espaço para todos, porém vemos que não é desse modo que muitos pensam.” Diz Karla Passoni, de 21 anos, designer de moda e gerenciadora de sua própria marca de roupas, voltada para o público gótico.

Gótico é o adjetivo que designa o que é proveniente, relativo, criado ou usado pelos Godos, o povo germânico. São intelectuais e socialmente pouco aceitos na expressão de sua arte e de si mesmos, demonstrando assim seu desencanto com a sociedade moderna. Os góticos sempre foram voltados aos movimentos musicais, literários e arquitetônicos, são possuidores de um humor incompreendido, e por isso são muitas vezes difamados como depressivos.

Dentro desta subcultura, existe vários grupos com características, estilos e gostos musicais diferentes. Como por exemplo, Lady Wilma, uma Cybergoth, que mora em João Pessoa desde criança. Os Cybergoths

são um grupo de góticos que costumam ouvir música eletrônica, com mais frequência do que no rock. Como acontece em vários casos, as pessoas já se tornam góticas antes mesmo de conhecer a fundo o que é essa subcultura, com Lady Wilma não foi diferente. “Em 2006, quando eu estava no meu segundo ano, meu professor de inglês quando viu meu estilo de vestir, minha maquiagem, meu cabelo, o coturno, meias rasgadas, crucifixos, ele perguntou a mim se eu era gótica e eu perguntei “O que é isso? Gótica?” e ele disse “Olha, busque na internet o que é gótico, você é muito parecida com eles”. E eu comecei a fazer minhas pesquisas e comecei a ver muitas semelhanças, entre o que eu já gostava e sobre o que é a subcultura gótica”.Karla Passoni, mora no Paraná e é dona da loja “Gotik Kvlt”, roupas feitas somente para o público gótico, sobre o qual é grande 

influenciadora, tanto nos grupos de amigos quanto nas redes sociais. No instagram ela tem mais de 2 mil seguidores em sua conta (@gotikkvlt). Karla sempre sentiu que

pertencia a esta cultura, antes mesmo de conhecer o que realmente era o mundo

gótico “eu não consigo dizer quando aconteceu ou indicar um motivo especifico,

eu me identifiquei com muitos aspectos da

subcultura como um todo - expressão

artística, musical e também através da vestimenta. E quando eu me dei conta tudo isso já fazia parte da minha vida, literalmente”, analisa Karla.

O preconceito com a subcultura gótica vem diminuindo bastante. Antigamente, os góticos sofriam preconceito por não serem tão conhecidos como outras subculturas já existentes. Guilherme Freon é gótico e joga em um time de futebol formado por gays, o Natus. Para Guilherme o preconceito ainda existe, mas com um peso menor “O preconceito ainda existe, talvez em menor medida principalmente quando a gente

fala de uma grande metrópole como

SP, os estilos mais alternativos

também são aceitos.”

Ana Cranes, mora em São Paulo e se considera uma “gótica suave”, muitas

vezes a confundem com rockeiros por seu estilo e comportamento serem de certa forma parecido com o deles, mas atualmente nem se abala mais com isso “Já passei da fase de me ofender se for chamada de roqueira” e explica a diferença do gótico e rockeiro “A cultura gótica tem a intenção de contestar a sociedade e tem um lado introspectivo, preocupado com o sentido da vida. O que as pessoas precisam entender é que existe a cultura e o indivíduo.”

Música e Eventos

Uma das características marcantes dos góticos é o estilo musical, mas cada grupo dentro dessa subcultura gosta de músicas diferentes, Ana Cranes nos : “É interessante explicar que gótico é um estilo de música, ele possuí sub-estilos vertentes, mas a soma dessas vertentes pode ser chamada de música gótica. Mas são vertentes pouco conhecidas por quem não entende de música alternativa. As principais vertentes são: darkwave, pos punk, gothic rock, death rock, coldwave e etheral.”

“A música para mim, é uma das coisas que dão sentido à vida, porque foi a partir da música que eu comecei a me interessa pelo estilo, é a parte importante da cena, que faz parte dos meus gostos, das minhas preferências, o que diz muito sobre mim, que é o principal, o que a gente ouve, veste acho que diz muito sobre o que a gente é. Então a música é muito na composição da nossa identidade” relata Guilherme que descobriu o gótico com 13 anos de idade e começou a se identificar com os gêneros musicais góticos “Eu ouço pos punk, dark uave, acold uave, porque o gótico não é um gênero musical, você vai ter gêneros, que compõe o nosso gosto, esse três são bem característicos”

 Karla não foi diferente, começou a se encantar por essa subcultura através das músicas: “Meu primeiro contato com a subcultura foi através da música, pelas bandas Sisters of Mercy, Depeche Mode, The Cure e Bauhaus.” E desde então, as músicas góticas não saíram mais de suas playlists “Sou apaixonada por Gothic Rock, Dark Wave e Trad Goth. Tenho muitas bandas favoritas, porém as que nunca faltam nas minhas playlists são essas.”Ana lembra das bandas nacionais góticas e as valorizam “Temos ótimas bandas nacionais como Plastique Noir, Downward Path, Jardim do Silêncio e Elegia”. Ana completa que não houve apenas bandas da subcultura que pertence ““Eu não gosto de músicas com letras muito depreciativas, seja funk, forró ou pop. Mas se a letra não for misógina ou extremamente agressiva,

dependendo da ocasião eu escuto”.

Muitas pessoas ainda confundem o estilo gótico com rock, tanto no estilo de se vestir, quanto no estilo musical. Lady Wilma esclarece “Tinha gente que dizia “Evanescense é uma banda gótica, MadeWish é uma banda gótica, o Épica é uma banda gótica” são bandas que tem estilos diferentes, MadeWish e Épica são estilos Metal e contém sim alguns elementos góticos, mas não são bandas góticas, o Evanescense também não é uma banda gótica, é uma banda de Rock-Pop, como a Pitty é aqui no Brasil.”

Em relação aos eventos, inclusive aqui em São Paulo, dois lugares foram citados como principais lugares tradicionais para os góticos curtirem a noite paulistana: “No momento as opções de SP são Via Underground, Madame e festas esporádicas. Fora da cena eu procuro ir a teatro, exposições, passeios ao ar livre.” Pronuncia Ana. Guilherme tem a mesma opinião “Os melhores lugares, atualmente não temos uma casa que seja totalmente gótica, temos o Madame, mas ele é mais comercial, as sextas feiras são muito boas lá. Tem festas avulsas, no domingo Via Underground é bem tradicional.”

Lady Wilma é uma das organizadoras de eventos góticos em João Pessoa, Paraíba. Os encontros começaram a acontecer desde 2008: “Antes a galera ia para a praça, se juntava para conversar, para ler poesias, para beber e a partir disso começou a surgir ideias de criar eventos com bandas, com DJ’s, que reúna vários estilos. Ai também tinha apresentação de Dark Belle Dance, interpretação de algumas bandas locais, bandas convidadas de Campina Grande, de Recife, de Natal”, mas os encontros passaram a ser menos frequentes por conta da violência na cidade “não tem mais encontros também nas praças porque está tendo muitos assaltos, porque a gente também fica com medo, apesar de sermos um grupo de mais de 10 pessoas, nós ficamos com medo de alguém chegar armado e assaltar a gente”

Comportamento

Muitos sabem que góticos gostam de usar roupas pretas, mas não sabem o realmente o significado desta cor para eles. “O preto pode representar muitas coisas, em vários movimentos contra-culturais do século 20 ele foi utilizado como forma de protesto, isso foi também adotado pela subcultura gótica. Creio que evoca também um quê de sobriedade, sofisticação e, ao mesmo tempo, decadência” Diz Karla, que começou o projeto de sua loja como trabalho de conclusão de curso.

Para Karla, a paixão pelas roupas góticas vem antes mesmo de começar a faculdade de moda e criar um trabalho inspirado nas vestimentas góticas “Um fato engraçado sobre isso é que por conta da maneira como me visto há vários anos, muitos conhecidos falavam que eu era gótica, mesmo eu não me considerando gótica, pois não conhecia a fundo o estilo ou nenhuma banda do gênero.” E com o tempo, ela foi crescendo tanto como pessoa, quanto profissional e viu que dentro dessa subcultura, todos eram livres para serem como quiserem: “A característica mais marcante, em minha opinião, a mais importante é a expressão individual. Tenho diversas amigas que gostam das mesmas roupas que eu e nossos estilos são completamente diferentes, porém fazemos parte de um mesmo grupo”

Guilherme por ser gótico e homossexual, ainda sofre preconceito por sua sexualidade, mas por ser gótico não, pelo contrário, se sente à vontade e acolhido nesta subcultura “O preconceito pela bissexualidade existe em maior grau do que referente ao estilo, mas é importe falar que dentro da cena gótica não tem espaço para preconceito por ser muito plural e diversa, ser gay, lésbica, bi, é bem natural até porque é uma cena que brinca com os papeis de gênero .Você vê o homem usando muita maquiagem que é um item muito feminino e a mulher tendo comportamento de liderança, que é visto, muitas vezes, pela sociedade como um comportamento masculino.”Outra forma que influencia muito esta subcultura é o gótico artístico, Guilherme comenta: “O gótico artístico se refere a literatura, essa literatura serviu de inspiração para o que viria a ser a subcultura, então ela pegou elementos do

gótico artístico.” Karla cita um dos maiores influenciadores que já existiu “Edgar Allan Poe, sem dúvidas”.

Muitas pessoas por não conhecerem a fundo os góticos, acabam padronizando e acreditando no que veem em sites ou por conhecidos. Presumem que os góticos são ateus e que para eles é uma regra não ter nenhuma religião. Ana Cranes mora em São Paulo e é gótica desde criança, afirma “A subcultura é laica e as pessoas são livres para serem o que quiserem. Tem gótico ateu, tem gótico cristão, tem gótico judeu, tem gótico muçulmano, tem gótico wicka, tem gótico satanista. Eu sou umbandista e não sou a única da cena”

Um mito muito comum é que todos os góticos gostam de frequentar a cemitérios, pois se sentem confortáveis e acham isso um lazer. Lady Wilma, por exemplo, desde sua infância se sente bem dentro de um cemitério “Desde criança eu já gostava de cemitérios, eu adorava o feriado dos finados, era um dos meus melhores feriados, eu adorava brincar com os meus primos nos cemitérios, roubar as flores dos túmulos e as velas, coisas de crianças”. Karla também sente essa atração pelo local “Eu aprecio bastante arte fúnebre e gosto bastante de cemitérios, também analisando pelo viés religioso. O cemitério representa, para mim, um lugar de descanso e respeito, penso que é muito importante demonstrar respeito aos ancestrais”.

Já Ana, não gosta nem de passar perto de um lugar como esse “Eu não gosto, nunca gostei, mesmo quando era mais nova. Para mim é um lugar carregado, mas dentro da cena existe uma ligação, por conta de ser controverso, por conta da arte tumular, por conta de estar ligado com introspecção e reflexão do sentido da vida”.

Karla deixa uma dica para aqueles que tem interesse ou se identificam com esta subcultura “Meu conselho para quem quer se juntar ao "grupo" é: encontre seu lugar ao sol dentro da subcultura, tanto em relação ao modo de ser vestir, quanto ao estilo musical. Não tenham medo de experimentos, isso é parte fundamental desse processo. E indico a leitura de "Happy House in a Black Planet", do Henrique Kipper. Nele há tudo quanto for possível para esclarecer o que é a subcultura gótica.”​

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