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Gourmetização

Como esse processo está modificando a forma de consumir alimentos

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Por Andreza Soares, Athayde Barbosa, Beatriz Santos, Cassia Almeida, Douglas Silva, Jéssica Almeida e Paulo Sérgio

A palavra gourmetização não existe no dicionário Aurélio, pois é um fenômeno relativamente recente, mas está cada vez mais presente em diversos segmentos da gastronomia. A gourmetização vem da palavra gourmet, termo surgido na França por volta do século XVII. Utilizado inicialmente para classificar pessoas com o paladar refinado, a definição do que é gourmet, com o passar do tempo, foi ganhando outros significados e as próprias comidas e ambientes foram se sofisticando, rebuscando o jeito de apresentação de pratos.

A gourmetização tem como premissa oferecer uma experiência diferente ao consumidor. Para um alimento ser considerado como gourmet, ele necessita ter ingredientes diferentes do tradicional, com uma preparação mais elaborada e nobre. Vários tipos de comida foram gourmetizados nos últimos anos, como hot dog, hambúrgueres, brigadeiro, bolos, carnes...

Levanto em consideração o fato de para um alimento ser denominado como gourmet, ele precisa ter uma apresentação diferenciada, o custo também é diferenciado. Mas será que é válido pagar mais caro por um produto que pode ser encontrado por um preço menor? É interessante que as pessoas provem as comidas, para ter novas experiências gastronômicas. Fora isso, e economia nesse setor nunca esteve tão aquecida.

Nos últimos anos, as emissoras de televisão trouxeram uma avalanche de programas e reality shows gastronômicos, um dos principais incentivadores no processo de gourmetização. Com várias opções para o público, as atrações são segmentadas em diversos tipos de comida, como bolos, churrasco, petiscos, comida de rua, sobremesas, drinques, entre outros. A maioria desses formatos, no entanto, são importados de fora, o que reforça que a onda da gourmetização é algo arraigado da cultura de outros países e que vem cada vez mais se popularizando no Brasil.

Mas com tanta oferta de programas culinários em diversos canais, o público tende a se cansar desse tipo de atração e os formatos se desgastarem? Para Cristina Padiglione, crítica de TV da Folha de S. Paulo, o excesso de programas gastronômicos não significa saturação imediata. “Público existe desde que as emissoras invistam em conteúdos diferentes na medida do alcançável e que o elemento surpresa seja o mote para atrair a atenção do telespectador”, afirma a jornalista.A gestora de pessoas Erica Segóvia, telespectadora assídua de atrações culinárias na TV, diz o que lhe chama a

atenção nesse tipo de formato é o conjunto

da obra: “As histórias e os conflitos apresentados junto do processo da elaboração dos pratos são fundamentais para que eu acompanhe. Fora isso, os programas me inspiram e despertam ideias para sofisticar os pratos do dia a dia”. Os números no Ibope (Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística) mostram que a fórmula gastronômica ainda está longe de se esgotar.

Na TV Bandeirantes, a quarta temporada do Masterchef Brasil, por exemplo, registrou em sua final em agosto de 2017, média de 8 pontos, com pico de 10, alcançando a liderança em diversos momentos. Um ótimo resultado para a emissora, visto que a sua média-dia é de 3 pontos. Já no SBT, as noites de sábado, são dedicadas a atrações culinárias, como Bake Off Brasil, Cozinha Sob Pressão e Churrasco na Brasa. Os três programas conquistam bons números de audiência e atingem com facilidade a vice-liderança em seus horários de exibição.

Com a popularização da gourmetização, algumas controvérsias e questões começam a surgir. Será que tudo que é vendido ou apresentado como gourmet, de fato é gourmet? Alguns comerciantes se utilizam do modismo do termo para vender mais caro. Como a palavra é forte e está em voga, é possível que a procura aumente. Na rua São Joaquim, localizada no centro de São Paulo, por exemplo, existe um trailer com uma placa com a seguinte frase: “Açaí Gourmet, venha provar o seu”. Mas o que esse açaí tem de diferente dos que vendem em outros lugares? A resposta: nada. A repórter Beatriz Santos experimentou o alimento e não havia algo que pudesse se diferenciar do que ela mesma já conhecia.

A concorrência em determinados segmentos pode aumentar e a ideia de que um produto gourmet é exclusivo pode se esvair. Quando as “paletas mexicanas” (picolés com recheios) ficaram populares no Brasil, haviam poucas empresas fabricando o produto e mesmo com um preço elevado, a procura era grande. Mas com o tempo, mais estabelecimentos entraram no negócio das paletas e ficou mais fácil de encontrar, o que acabou tornando num produto comum, sem o tal diferencial que a gourmetização exige. Dessa forma, a febre das paletas passou tão rápido do mesmo jeito que começou.

Com a onda de gourmetização longe de acabar tão cedo, é importante que o consumidor esteja sempre atento ao que lhe é apresentado para não cair em roubadas, visto que o termo gourmet pode ser utilizado como uma desculpa para agregar um valor inexistente a determinados tipos de produtos por meio da venda da “embalagem” e do marketing agressivo.

Veganos: movimento ideológico

O veganismo ganha cada vez mais adeptos, mas como aderir à causa de forma saudável?

De acordo com a The Vegan Society, a mais antiga entidade vegana do mundo, “o veganismo é uma forma de viver que busca excluir, na medida do possível e do praticável, todos os jeitos de exploração e de crueldade contra animais, seja para a alimentação, para o vestuário ou para qualquer outra finalidade”. Os seus adeptos têm motivações ideológicas e ambientais, por isso, os veganos excluem qualquer alimento de origem animal de seu cardápio, como carnes, peixes, crustáceos, leite, queijo, ovos e mel.

No Brasil, cerca de 5 milhões de pessoas são adeptas ao veganismo. Pesquisa publicada em setembro de 2017 na revista “Veja Rio”, mostrou que 63% dos brasileiros pensam em diminuir o consumo de carne — e 73% se sentem mal informados sobre como ela é produzida. Fora isso, a busca no Google pelo termo “vegano” cresceu mil por cento no país nos últimos cinco anos.

Como dito anteriormente, a causa vegana não é apenas uma dieta que exclui qualquer alimento de origem animal, ela vai muito além disso. O veganismo é uma filosofia de vida, em que não se utiliza nenhuma matéria-prima derivada de animais em absolutamente nada, desde o vestuário, até itens de higiene e limpeza, que na maioria das vezes, testam seus produtos em animais.

Jaquetas e botas de couro, casacos de lã, ou qualquer outra roupa que tenha origem animal, não são usadas por veganos. No lugar desses tipos de vestuário, eles são adeptos a peças de couro sintético e roupas feitas com linho ou algodão. Existem, inclusive, grifes veganas, que fabricam roupas sem nenhum componente animal, algo positivo para quem pratica o veganismo, visto que não é necessário ler as etiquetas de produtos a todo momento antes de comprá-los.

O grande desafio de ser vegano é estar atento a tudo o que é ou vai ser consumido. Na dúvida, se determinado produto tem alguma origem ou se foi testado em animais, o tal item não é utilizado. “Com o tempo, vamos adquirindo conhecimento e ficando mais conscientes quais são as empresas e produtos que não devemos consumir. Isso se torna automático, a nossa ética e respeito à vida falam mais alto sempre”, diz Rosane Freire, vegana há cerca de cinco anos.

Existem grupos e entidades veganas no Brasil e no mundo, que buscam de diferentes maneiras propagar as suas ideias para pessoas que não tem maior conhecimento sobre a causa. Porém, há

uma linha tênue entre a conscientização do não-consumo de carnes e a militância agressiva, que nesse caso, pode ter um efeito contrário. O ativismo exacerbado de alguns grupos veganos é algo a ser debatido. Com um discurso inflamado, que por vezes, pode trazer uma tinta carregada, as pessoas que não são adeptas ao veganismo, acabam por não criar empatia pela causa.

O escritor e empresário Roberto Juliano, autor de livros como O Dilema do Vegano, afirma que é necessário que os veganos explanem suas ideias para todas as pessoas. Por isso, decidiu escrever livros sobre o assunto e há alguns meses, abriu um restaurante vegano no bairro do Butantã, em São Paulo. “Não existe a mínima chance de uma pessoa ser vegana e não ser ativista da causa, porque veganismo é consciência, e se você tem essa consciência, você tem que propagar. No início com uma certa violência sim, mas é uma ideia de quem se declara vegano, afirma. O seu restaurante que é uma vila vegana, se tornou referência da causa vegana.Com a popularização das redes sociais nos últimos anos, a causa vegana também chegou na internet de forma massiva. Perfis e páginas propagam campanhas e vídeos, por muitas vezes chocantes, para tentar conscientizar as pessoas sobre o esquema de abate de animais. A analista de risco Docke Lima, vegetariana há dois anos, se incomoda com discursos mais inflados. “Existem militantes veganos que pecam muito pelo exagero. A forma com que alguns deles falam, acaba transparecendo um certo ódio com quem come carne. Comparo esse tipo de comportamento com o de um fundamentalista religioso, e dessa maneira, o discurso perde o sentido, afinal cada um tem sua decisão pessoal e isso deve ser respeitado”, declara.

Por ser uma dieta restritiva, as pessoas que são veganas precisam adequar sua alimentação de forma correta, para compensar as calorias nutricionais de que o corpo precisa. É fundamental saber como consumir as proteínas necessárias, uma vez que não há ingestão de carne e seus derivados. “A dieta vegana tem seus riscos pelo fato da carne ter proteínas que nenhum outro alimento substitui. A deficiência dessas proteínas pode ocasionar em sérias doenças. Quando a pessoa decide ser vegana, é importante que a mudança seja feita aos poucos, para o corpo acostumar e não acontecer uma mudança

muito radical. Todos os exames de laboratório são importantes e devem ser

feitos de forma regular. É necessário verificar se existe a necessidade de suplementar a alimentação com vitaminas devido à ausência da carne”, afirma a nutricionista Neide Souza.

É indispensável que haja acompanhamento profissional com um nutricionista para saber como substituir os alimentos de origem animal pelos alimentos corretos. Por meio da dieta adequada, as necessidades podem ser supridas com proteínas vegetais. Arroz, feijão, legumes, verduras, frutas, cereais, grãos e carne de soja são os principais alimentos consumidos pelos veganos.

Um exemplo a ser citado é a vitamina B-12, que é indispensável para o corpo humano. Além de prevenir doenças, como a anemia, ela é essencial para o bom funcionamento do organismo e desenvolvimento de glóbulos vermelhos saudáveis. O grande revés é que ela é encontrada apenas em produtos de origem animal. A carência dessa vitamina demora a se manifestar no corpo, mas quando isso acontece, ocasiona em diversos problemas, como lesões nos nervos, dores em diversos lugares do corpo, descoordenação, doenças cardiovasculares, entre outros. Por conta, disso, os veganos devem ingerir diariamente suplementos de vitamina B-12, o que nem sempre ocorre, muitas vezes por falta de conhecimento.

Para a estudante Evelyn Mita, ex-vegana, a grande dificuldade em seguir esse estilo de vida é não ter a companhia da família e a tarefa extra de preparar sua própria alimentação. “Fui descuidando da alimentação por falta de tempo, e porque na minha casa, apenas eu era vegana e esse é um desafio. É um caminho que você acaba fazendo sozinha”, relata a jovem. “Meu corpo sentiu falta da carne por conta do radicalismo que decidi fazer na minha alimentação, por conta disso, voltei a comer carne e melhorei”.

Seja por convicção ou modismo, a causa vegana tem crescido de forma substancial nos últimos anos. Mas, como tudo tem seu bônus e ônus, o veganismo pode ser visto e entendido por diversos ângulos. As visões de mundo de cada um, precisam ser respeitadas para que exista um diálogo saudável e produtivo. Não há como apontar certo e errado, ou tentar mudar o mundo de uma hora para outra. Essa utopia é algo que nenhuma causa ou ideologia conseguiria. O que deve ocorrer, de fato, é uma convivência pacífica em sociedade e o entendimento de que cada indivíduo tem suas necessidades e pode sim, querer propagar suas ideias, mas sem violar ou invadir a liberdade do outro.

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