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casa, tem filhos, que mora sozinha, enfim que ela tem uma vida. E quanto a superar

limites, isso fazemos todos os dias ao acordar, ao levantar, no trabalho, cotidiano e uma série de questões. Então quebrar um pouco esses paradigmas mostrando para as pessoas que somos todos iguais, porem diferentes, todos temos dificuldades e superamos limites.A mesma estrutura da escola, conta com profissionais qualificados em cada técnica, pode ser contratada e levada para escolas particulares, como uma disciplina opcional. Em 2011, a Cia Circodança criou um grupo artístico profissional, com um elenco de 14

artistas, dos quais metade possui algum tipo de deficiência.

O ator, poeta e anão, integrante do grupo há mais de 6 anos, Giovani Venturini confia imensamente no trabalho da equipe: “É muito importante esse trabalho da companhia porque aqui tem todos os tipos de pessoas fazendo todos os tipos de atividades possíveis. É um lugar que motiva as pessoas para realizar alguma coisa. Acredito que seja algo transformador para o público, pois todos que assistem, saem motivados do espetáculo querendo correr atrás dos seus sonhos e acreditando que são capazes.”O cadeirante Rafael Barbosa com 27 anos também faz parte do

O Dom de Viver Pela Arte

Na atualidade, cada vez mais pessoas conseguem brilhar com seus talentos artísticos, apesar de suas limitações físicas

Por Gabriela Maria, Andressa Aguilar e Fabiano Campos.
Foto Fabiano Campos
Fotos Marta Miranda

Hoje é dia do espetáculo e a bailarina Aline Fávaro se arruma com a ajuda da mãe, ansiosa para mostrar mais uma coreografia. Sua especialidade é dançar nas pontas dos pés e com perfeição. Ela entra no palco, segura de si, como toda bailarina, exalando a beleza em fazer aquilo que mais ama. Ansiosa, nervosa e muito feliz quando a sinfonia toca, os movimentos iniciam, brindando o início do seu show, do seu espetáculo.

Movimentos leves, inclinação do corpo com suavidade, no ar os braços em constante movimentos abertos e acentuados, pernas se elevam nas pontas dos pés e semblantes risonhos e cheio de ternura procuram os expetadores com a sutileza, o tom surge e entra a música clássica e orgânica para compor a sinfonia da arte do corpo.

“Minha intenção não era colocar ela no balé, mas quando Aline nasceu nós não conhecíamos nada sobre síndrome downs. O primeiro livro que li, foi um livro cientifico que o médico me emprestou, ao ler me assustei e pelo pouco que eu conhecia sobre a síndrome de down, eu sabia que eles tinham uma facilidade muito grande para engordar. Então achei que a dança seria bom, pois trabalha com o corpo. Logo a matriculei numa escola de dança, mas a professora ficou receosa, não por preconceito e sim por não saber como lidar com a Aline, que na época tinha 8 anos de idade. Então falei para ela ensinar normalmente igual para as outras alunas, pois ela merecia essa oportunidade” relata dona Eleide Fávaro, mãe de Aline.

Após uma semana, dona Eleide foi chamada na escola e recebeu uma boa notícia, que sua filha levava muito jeito para o balé, e desde então a jovem bailarina não parou mais de dançar. Atualmente no auge de seus 35 anos Aline é única bailarina clássica com Síndrome de Down no Mundo a dançar na ponta dos pés e com perfeição.Por muitos anos as pessoas com deficiência eram consideradas incapazes e

impossibilitadas de qualquer tipo de ação e por conta disso houve uma grande exclusão desse público do restante da população. Com o passar do tempo a sociedade percebeu que a pessoa com deficiência pode realizar diversas atividades, como qualquer pessoa sem deficiência e isso contribui em sua recuperação e reabilitação. Sabemos que a dança traz muitos benefícios para a saúde, e está comprovado que a atividade tem se assegurado como fator preventivo e de manutenção para um bom funcionamento do organismo, pois muitas pessoas que possuem algum tipo de deficiência física ou intectual acabavam se tornando sedentárias e a arte reintegra a sociedade como participante ativo e atuante.

Em São Paulo existe a companhia Circodança, coordenada por Suzie Bianchi, bailarina profissional, e que atualmente é uma das principais referências no ensino e divulgação do circo e da dança no Brasil. A companhia de dança faz uma junção das artes e das pessoas. Em entrevista para revista Gambiarte, Suzie contou que atualmente a companhia é formada por doze artistas, dos quais seis com deficiência e a outra metade, sem deficiência e que esse trabalho existe há mais de vinte anos e logo quando foi inaugurada a escola, já estudava uma aluna com deficiência auditiva. Nunca tive essa preocupação, todos são alunos e não existem distinção, podem ser com ou sem deficiência, relata Suzie Bianchini.Suzie ainda revela que sempre teve uma cabeça muito aberta pra arte. Tenho esse olhar para o conjunto, não apenas para as pessoas com deficiência, mas pra todas as pessoas que entram na escola, esse é o diferencial daqui. Por isso trabalho com o talento e tenho esse olhar individual para cada potencial e a partir disso faço um trabalho em grupo, onde todos são diferentes e com grandes possibilidades e talentos. Trabalho o potencial de cada um,

Fotos Fabiano Campos

por exemplo, tem pessoas com um alongamento melhor que outro, por sua vez existe pessoa com melhor ritmo e outras com uma força maior, assim integro todos e na troca somos um grande grupo. Essa interação entre as pessoas e a sociabilização, faz o aprendizado ficar gigantesco, pois nossa escola tem esse olhar individual e ao mesmo tempo coletivo.

 A política da escola de Bianchini é que o circo e a dança é uma arte única e pode ser praticada por todos. Atualmente a Cia Circodança, conta com três divisões: a escola, a companhia artística e o departamento de eventos corporativos. A escola oferece aulas de circo, dança, yoga, musicoterapia e desenvolve um trabalho específico para pessoas com deficiência.

Questionada sobre a integração e superação de limites de seus alunos Bianchini advertiu: “A gente vem trazendo uma discussão com a companhia, entre as pessoas com deficiência, de como formar uma plateia. Pois a pessoa com deficiência é uma pessoa como outra qualquer e a deficiência é uma mera coincidência da vida. As pessoas costumam ter aqueles estereótipos “o cadeirante”,” a menina com síndrome de Down!”, e foca na deficiência e não na pessoa e esquece que ela tem um nome, uma vida, um trabalho, que namora,

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Circodança e pratica a atividade há 5 anos e

está na companhia profissionalmente há 3 anos, diz que a dança é libertadora. “A dança é um arte que qualquer pessoa pode fazer, e que nenhuma deficiência impossibilita alguém de dançar. Somos iguais e temos o direito

de fazer aquilo que gostamos e não existe diferença no palco. Ninguém é melhor do que ninguém, cada um precisa do outro, com muito esforço, treino e doando o nosso melhor”

Dançar possibilita trabalhar aspectos como a criatividade, musicalidade, socialização e o conhecimento da atividade em si, contribuindo assim, na consciência corporal, comunicação entre tantos outros benefícios.

"Esta menina tão pequenina quer ser bailarina não conhece nem dó nem ré mas sabe ficar na ponta do pé não conhece nem mi nem fá mas inclina o corpo para cá e para lá não conhece nem lá nem si mas fecha os olhos e sorri roda, roda, roda com os bracinhos no ar e não fica tonta nem sai do lugar. Põe no cabelo uma estrela e um véu e diz que caiu do céu. Esta menina tão pequenina quer ser bailarina mas depois esquece todas as danças, e também quer dormir como as outras crianças." (Cecília Meireles).

Fotos Andressa Aguilar e Gabriela Maria

Uma identidade cultural em batucadas

A cultura da dança afro-brasileira persiste como arte da resistência negra.

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Por Alexandre Lima.

Ao crescente e contagiante ritmo do batuque, as várias vozes de um coro e solos em celebração ecoam pelo espaço. Dentro do peito, o tambor vermelho responsável por despertar os sentimentos que embalam a dança, acompanha as batucadas através dos acelerados batimentos por minuto. O elo de ancestralidade africana vibra a cada batida – do tambor ao coração.

O batuque é um dos maiores símbolos da cultura afro, entre os mais variados agrupamentos culturais e religiosos do Brasil. Espalhados pelo imenso território do país, existem inúmeros praticantes de um estilo de dança idealizada à partir das tradições trazidas pelos escravos africanos durante o período colonial. Persistente como uma das grandes formas de expressão cultural, e, sobretudo, resistência, a dança afro carrega consigo histórias particulares que se manifestam nas batucadas.

À medida que ocorriam as intensas migrações do século XX, a miscigenação possibilitou a cultura africana no Brasil, enquanto religiões afro-brasileiras – como o candomblé e a umbanda – se fortaleciam. Apesar de distintas – a umbanda foi criada no Brasil, enquanto que o candomblé teve sua origem na África –, ambas as religiões valorizam elementos da natureza e cultuam orixás. Os escravos promoviam celebrações em terreiros e cada dança representava gestos e movimentos de cada orixá específico.Originada a partir das expressões artísticas

de tribos africanas durante o período colonial do Brasil e praticada essencialmente por escravos, a dança afro brasileira também chegou a incorporar influências de tribos indígenas. As duas culturas – africana e indígena –, aliás, foram primordiais na história brasileira e responsáveis por diversas manifestações artísticas posteriores, tais como a criação do coletivo BatucAfro.

Ecoando os tambores ancestrais africanos, o BatucAfro nasce em 2013, no Itaim Paulista, extremo da Zona Leste da cidade de São Paulo, como um projeto de encontro de grupos que trabalham especificamente com essa cultura, propondo, inclusive, palestras e workshops sobre o tema.

Desde que foi idealizado, o encontro da dança e da música a partir da cultura popular e africana luta com muita resistência para se organizar e se estabelecer no meio artístico. Entre seus valores e objetivos, destacam-se a celebração, o ato de compartilhar experiências e o fortalecimento, além da luta contra o preconceito, o resgate da ancestralidade africana e, desse modo, a consolidação da cultura popular e afro.

O BatucAfro surgiu na Casa de Cultura do M’Boi Mirim, na Zona Sul de São Paulo, à partir do grupo Panelafro. Entrevistada pela Gambiart, Pollyana Almië, organizadora do coletivo, conta que a ideia foi inspirada pela dinâmica do Panelafro. “A gente ressignificou a ideia, porque lá tinha uma estrutura mais fechada por conta da

organização. Eles que conduziam tudo”.

Segundo ela, a ideia era fazer de uma forma

diferente e mais livre, para que quem quisesse se manifestar artisticamente, tivesse a chance de se manifestar. “Quem quiser tocar, toca; quem não sabe, a gente ensina na hora. Para a dança e o canto, a mesma coisa. Então é tudo muito aberto, e daí veio a ideia de juntar outros coletivos para somar com a gente”, ressalta.Com a missão de servir de espaço para que grupos de cultura afro pudessem apresentar seus trabalhos, a primeira edição do BatucAfro aconteceu em 14 de setembro de 2013. Desde então, em cada evento, é realizado uma homenagem a um orixá. “A proposta é exatamente reunir esses coletivos que também trabalham com a cultura popular e afro-brasileira para se fortalecerem, porque realmente não é uma vertente da arte muito difundida e valorizada. Temos muitas dificuldades em trabalhar com essa linguagem. Então, a ideia é que a gente conheça um ao outro e faça uma fusão e valorização da cultura negra e da cultura popular nordestina, aqui na zona leste mesmo”, avalia a organizadora.Em 2014, o grupo foi contemplado pela lei de incentivo VAI (Valorização de Iniciativas Culturais), que contribuiu para a propagação e realização de oficinas mensais. No entanto, protestos no início de 2017 contra o congelamento de 43,7% da verba de cultura, culminaram em atritos com o Secretário Municipal de Cultura, André Sturm.

Fotos Rodrigo França e Alexandre Lima

Após o embate, o coletivo BatucAfro foi excluído do programa VAI. “Fomos boicotados porque fizemos uma manifestação contra o congelamento da cultura. Então, a questão é: se a gente se manifesta contra, acaba perdendo as oportunidades de editais e de valorização financeira”, desabafa Pollyana. Segundo a organizadora, o coletivo tenta se manter de forma autônoma.

A Gambiart tentou entrar em contato com a Secretaria Municipal de Cultura da cidade de São Paulo, mas a organização não quis comentar o caso.Quando questionada sobre o espaço reservado à cultura afro-brasileira, Pollyana dispara: “Como tudo o que se refere ao negro, é muito difícil. Os espaços de arte e de cultura não valorizam os coletivos e os grupos que trabalham com essa cultura. A arte negra, hoje, está tendo uma visibilidade maior, está tendo um boom há cinco anos, mas mesmo assim, são espaços muito limitados, e na maioria das vezes, voluntário. Não há nenhuma valorização financeira para que mantenha e faça a manutenção desses coletivos”.  Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o número de cristãos, no Brasil, corresponde a 86,8% da população – sendo que 8% dos brasileiros se declaram sem religião. A pesquisa aponta, ainda, que 588.797 pessoas se declaram umbandistas, candomblecistas ou adeptas a demais religiões afrobrasileiras. Como forma de lidar com o preconceito com as religiões de origem africana, a organizadora do coletivo afirma

que o grupo tenta sempre discutir sobre esses assuntos. “O BatucAfro é um espaço de festa e celebração, mas também de reflexão. Tentamos trazer algumas reflexões importantes e relevantes para o coletivo. A

gente fala sobre machismo, LGBT fobia, sobre todas as questões que nos envolve. Até porque nós vivemos numa periferia onde a maioria da população é negra e nordestina, então não podemos deixar de falar dessas questões. Tentamos fazer essas discussões aqui mesmo, no espaço, e nos grupos do WhatsApp e Facebook, sempre levamos os temas para discussão”.Pollyana reitera, ainda, que a cultura negra é muito próxima da espiritualidade negra. “Não se dissocia uma coisa da outra”, 

salienta. “Na verdade, a dança traz exatamente a questão do respeito à natureza, essência da religião de matriz africana. Então, a partir do momento em que você coloca o ser humano como parte da centelha divina dentro da cosmo visão da religião de matriz africana, você também está falando da espiritualidade. De uma forma diferente, lógico, pois nos terreiros há uma forma diferente de encarar”, explica.

As religiões africanas e por extensão as afro-brasileiras, possuem a dança como um elemento quase que constitutivo. “Nos rituais, a dança é também uma forma de oração. Candomblés, umbandas, tambores de mina e todas as outras religiões afro são corporais, onde o corpo é ponte para o sagrado. Então como a dança é parte de uma expressão cultural e corporal, ela

acaba sendo fundamental para essas comunidades”, explica Hanayrá Negreiros, mestrando em Ciências da Religião na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC –SP).

Sobre os planos do BatucAfro para o futuro, a organizadora do coletivo é clara: a ideia é continuar no Itaim Paulista, a fim de empoderar a periferia. “Eu acho que estar aqui no nosso bairro, onde a gente mora também, falando de cultura negra, de orixá e de cultura nordestina, para os nossos, é o máximo. As pessoas sempre saem da periferia para o centro da cidade, para falar da cultura negra por lá. A nossa ideia é exatamente estar aqui e falar aqui, para empoderar os nossos, a nossa comunidade, a nossa molecada preta que vive na periferia”, esclarece.

Em nome do coletivo, Pollyana explica o objetivo em continuar circulando pelas periferias da cidade de São Paulo. Para a organizadora, o BatucAfro fala para quem realmente precisa ouvir, salientando a questão do acesso à cultura negra. “Quem está lá no centro também tem a oportunidade de falar – e mais oportunidade, inclusive -, enquanto a gente, aqui, faz um trabalho de formiguinha mesmo. Oficinas voluntárias, troca de ideia com a molecada sobre essas questões. Tudo para que a gente não perca essa linha tênue que é a consciência do que está acontecendo no mundo e o que está acontecendo com você, enquanto população negra”, finaliza.

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